12.4.07

EDITORIAL

No dia 25 de Abril de 1974, tinha eu não muitos anos de idade, quando fui confrontado com a possibilidade de não ir trabalhar, parece que estava a acontecer qualquer coisa de muito especial… Na altura, eu trabalhava na empresa EFACEC e estudava á noite!

Como era ainda um adolescente, uma Revolução - segundo disse a minha mãe preocupada - seria uma novidade para mim, mas pelo sim pelo não, o melhor mesmo era ficar em casa… Ainda assim, claro que não deixava de ser uma excelente notícia!

Contudo dava para perceber a esfuziante alegria que pairava por toda a rua e mais tarde por toda a Capital. Acordei na altura a ouvir Grândola Vila Morena e só umas horas mais tarde percebi o significado. Para mim, canções proibidas seriam mais “je t´aime móis non plus”…

Naquela altura e durante ainda algumas semanas, passei por situações completamente estonteantes. Uma noite, findo o jantar, o meu pai atendeu o telefone e disse “tens de ir para o emprego, parece que vais fazer parte de um piquete de greve”… quando cheguei à Rodrigo da Fonseca, o administrador estava fechado no gabinete e só a sua secretária tinha o direito de lá entrar até aparecer, passados uns dias a “Copcom” para o libertar.

Como não havia computadores, todos os desenhos de projectos tanto para elevadores como para postos de transformação de alta ou baixa voltagem eram feitos a “rotring”, em estiradores, em papel vegetal ou BJ, que permitiam cópias em “ozalid” e tudo isto era feito por imensos desenhadores, em grandes salas forradas a papel de cenário, com as figuras mais proeminentes das grandes revoluções dos países de leste. Havia até quem só se deslocasse munido da sua boina à Ché Guevara, havia cravos e crachás por todo o lado, era bonito de se ver! Agora faz lembrar aqueles estudos que se fazem à saída das universidades, “o que é que quer ser quando for grande, ou daqui a quinze anos”? O entrevistador guarda a resposta e volta a consultar o mesmo entrevistado de há quinze anos atrás e pergunta “então conseguiu o seu objectivo?”. As estatísticas dizem que nove em cada dez alunos não estão a fazer o que gostam ou aquilo para que estudaram.

Claro que já não guerra no Ultramar nem presos políticos…

Isto é o que me lembro da Revolução dos Cravos!

Augusto da Fonseca

Túnel do Marquês

RÉS-VÉS INAUGURAÇÃO

O Túnel do Marquês vai ser inaugurado em Abril, assim que “os testes de segurança e de ventilação” que estão a ser efectuados no local tenham resultados positivos, avançou Cristina Valério, assessora do presidente da Câmara Municipal de Lisboa - CML, ao Jornal do Bairro.

Apesar da data da inauguração ainda não estar definida, os trabalhos à superfície já estão concluídos, faltando apenas terminar a rampa de saída para a Avenida António Augusto de Aguiar, que vai permanecer fechada dependendo de uma empreitada da Linha Amarela do Metropolitano de Lisboa que ainda não dispõe de prazo para arrancar.

Este é mais um dos dramas do Município que parece ter os dias contados. O Túnel partiu de uma proposta de Pedro Santana Lopes, presidente da CML, em 2002. A ideia era que o troço estivesse a funcionar em meados de 2004, não ultrapassando a obra mais do que 72 semanas.

Na passada semana, o ex-autarca admitiu mesmo, numa conferência alusiva ao tema “Os Problemas de Lisboa”, que este Túnel é “o mais seguro de Lisboa” e “quase” o mais seguro da Europa.

Segundo Carmona Rodrigues, presidente da CML, as diferenças entre a infra-estrutura actual e a projectada pelo anterior executivo são visíveis, até porque “este é bem melhor, melhor fundamentado e mais seguro”, declarou.

No entender de Carmona, as vantagens existem “não só nas alterações estruturais, como na velocidade limitada a 40 quilómetros/ hora e controlada por radares e câmaras, na proibição à circulação de pesados, no piso rugoso e no facto de dispor de uma grua, para acudir em caso de empenagem e de duas saídas de emergência, além das entradas e saídas existentes de 150 em 150 metros”.

A luz ao fundo do Túnel

Desde que a ideia surgiu que muitas vozes se levantaram contra, entre elas a do agora vereador Sá Fernandes, que em 2004 lhe interpôs uma providência cautelar e a da Quercus.

A Associação de Conservação da Natureza acusou a CML de dificultar o livre acesso à pouca documentação existente, a ausência de estudos de tráfego que indicassem quais as zonas de maior problemática de acessibilidades e a inexistência de um estudo de Impacte Ambiental.

Para contribuir para a dor de cabeça de Santana Lopes, em 2003 a Quercus promoveu uma recolha de 5 mil assinaturas que tinham em vista a realização de um referendo sujeito à questão:

“Concorda com a construção do denominado Túnel das Amoreiras, concretizado no Desnivelamento em Túnel da Av. Joaquim António de Aguiar até à Praça do Marquês de Pombal com saídas para a Rua Artilharia um, Av. Fontes Pereira de Melo e Av. António Augusto de Aguiar aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa em 23 de Maio de 2002?”

O referendo não se concretizou mas foram vários os grupos de ambientalistas que alertaram para o facto se estarem a desviar muitos dos lençóis de água da cidade para a zona ribeirinha.

Volvidas as 72 semanas de obra prometidas em 2002 e serenados os ânimos da discórdia, passados 5 anos, o Túnel acabou por ser construído. A sua extensão é de 1.250 metros e conta com duas vias em cada sentido. O objectivo é desnivelar o troço Amoreiras - Marquês de Pombal - Fontes Pereira de Melo com um prolongamento opcional para a Av. António Augusto de Aguiar.

Aberta a circulação automóvel ao Túnel do Marquês, este percurso rodoviário deverá ser mais fácil, prometendo desnivelar os percursos directos de entrada e saída no centro e libertando a superfície para os transportes públicos e para a circulação local.

Esta pode – ou não – ser a luz ao fundo de um Túnel que há muito deixara às escuras as Freguesias vizinhas. O JB vai acompanhar a situação!

Mónica Almeida

Estrela

155 ANOS, HÁ FESTA NO JARDIM!

No passado dia 3 de Abril o Jardim da Estrela fez 155 anos, uma idade avançada e que por isso foi festejada com muita festa que promete continuar até ao final do mês.

A celebração teve início no domingo, dia 1 de Abril, quando se realizou a habitual e mediática Feira de Artesanato Crafts & Design e onde actuaram o Coro da Junta de Freguesia de Lapa e o Águila dj.
De acordo com Nuno Ferro, presidente da Junta de Freguesia da Lapa, “estamos a desenvolver uma série de actividades” no local e a ideia é que se realizem ainda mais.
O Jardim tem vindo a contar com a Crafts & Design, uma feira organizada por um grupo de artesãs denominado Arquitexturas, e que a partir do próximo dia 29 de Abril se passa a realizar não só no primeiro domingo do cada mês, como também no último. À semelhança das restantes, esta 8ª. edição vai contar com os habituais certames temáticos, sendo que a ideia para Abril é “155 Anos! Festa no Jardim”.
Continua ainda a decorrer a iniciativa “Open Your Eyes and Make a Wish”, onde os visitantes e os participantes podem dar largas à imaginação e exprimir, nas três telas existentes no local, todos os seus desejos.
Para além deste evento a Junta apoia uma Feira de Antiguidades que se realiza ao 3º. sábado de cada mês. E porque a ideia é “alargar estas a mais acções de forma a dinamizar o jardim todas as semanas”, Nuno Ferro refere-se a outras actividades previstas, como “uma feira de coleccionismo e de banda desenhada”.
Na realidade, as “ideias não faltam”, resta agora esperar para ver!
Uma das memórias mais interessantes que estão associadas ao Jardim refere-se a uma jaula que ali foi colocada e onde esteva o famoso leão da Estrela, oferecido, em 1871, por Paiva Raposo.
Mas as curiosidades não se ficam por aí, estendendo-se à existência uma montanha russa e de um coreto em forma de barco no meio do lago, que causaram sensação na altura. Actualmente, o Jardim serve de domicílio a 11 espécies de aves, entre as quais os guarda-rios e as alvéolas-cinzentas, e a 34 espécies de árvores, entre elas a árvore-orquídea, o dragoeiro, a bananeira, os coqueiros-dos-jardins, os jacarandás ou os metrosideros.

Texto: M.A.
Foto: Florbela Salgueiro, Arquitexturas

25 de Abril no Bairro

Charanga a monte nos Prazeres
No dia 25 de Abril, os Prazeres vão ser invadidos por uma “charanga” que irá percorrer toda a Freguesia e convidar os habitantes a participarem na festa.
O desfile será constituído pelos Bombos da Brandoa, um grupo de crianças percussionistas e pelos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.
A charanga vai partir de uma das colectividades mais antigas do Bairro, Os Combatentes e desaguar na Sociedade Musical Ordem e Progresso, passando por outras sociedades centenárias que se poderão juntar ao arraial.
Segundo o presidente da Junta, Magalhães Pereira, “vamos fazer o mesmo do ano passado”, com a diferença que desta vez a organização conta não ser abordada pelas autoridades, “que em 2006 tentaram travar os festejos alegando que estariam a perturbar a ordem pública”, avançou o presidente que ainda assim garantiu ter informado o Governo Civil por fax.
O prazenteiro cortejo realiza-se entre as 10h e as 12 horas.

Noite de Fados em Campolide
No próximo dia 21 de Abril a Junta de Freguesia de Campolide vai festejar a Liberdade com alguma antecipação e muito fado à mistura.
Para marcar a efeméride a Junta está ainda a organizar uma “Noite de Fados”, a ser realizada no Sport Lisboa e Campolide. Tendo em conta a data de emissão deste quinzenário, os pormenores sobre o evento ainda não foram definidos, se bem que “apesar dos fadistas a actuar não estarem confirmados, salientamos que todos eles cresceram no Bairro”, avançou fonte da Junta ao JB.
A festa está marcada para as 21:30 horas e o ingresso será gratuito.

Almoço conjunto em Alcântara
As juntas de freguesia de Alcântara, Ajuda, Santo Condestável e Prazeres vão levar a cabo um almoço conjunto a 21 de Abril, para comemorar o 33º. aniversário do Dia da Liberdade.
Por razões de espaço nas instalações da Junta de Freguesia de Alcântara, local onde o almoço tem lugar, o convite estende-se apenas aos convidados, entre os quais se destacam o presidente da Assembleia da República e respectivos grupos parlamentares. Para além do executivo Municipal, o convite seguiu também para outras entidades de Lisboa e para colectividades, jardins de infância e escola secundária de Alcântara.
O principal prato a saborear neste almoço é o tradicional bacalhau com grão.

Procura-se

Com Recompensa

O Jornal do Bairro oferece a recompensa de publicidade gratuita numa edição do quinzenário aos leitores, sejam eles particulares ou privados, que devolverem o “carrinho” de transporte de bilhas de gás que foi furtado no passado dia 30 de Março, na Rua da infantaria 16.
O incidente ocorreu por volta das 11 horas da manhã, altura em que a distribuição da 5ª. edição do Jornal era feita em Campo de Ourique. De acordo com o distribuidor, Manuel Leitão, “deixei o carrinho na esquina da Rua Ferreira Borges com a Infantaria 16, ao lado do supermercado Extra”.
Manuel Leitão estacionou o carro que utiliza habitualmente para transportar os jornais e demorou cerca de 15 minutos a percorrer os diversos estabelecimentos comerciais. Quando regressou, “estava lá o sítio”, declarou.
Para além do prejuízo financeiro na ordem dos 50 euros, 10 contos na moeda antiga, que correspondem à centena dos originais furtados e ao preço do próprio carro, a direcção lamenta também a má atitude “dos concidadãos que furtam um bem comum que é distribuído gratuitamente por todo o Bairro”.
“Uma tristeza” lamentada por toda a equipa!

Zeca Afonso

“JÁ O MUNDO SE NÃO LEMBRA DE CANTIGAS…”

Abril cheira a Liberdade e foi nesse contexto que Helena Afonso, filha de Zeca Afonso falou ao Jornal do Bairro sobre as voltas do seu tutor andarilho. Jorge Luz, então estudante numa faculdade em Lisboa, recorda a véspera do 1º. de Maio em que foi levado, com Zeca e outras centenas de jovens, para a prisão de Caxias.

Há 33 anos milhares de jovens portugueses perdiam braços, pernas e vidas numa Guerra Colonial que não desejavam travar. A Liberdade de expressão era censurada sob pena de morte e os opositores ao regime dividiam-se, uns exilados, outros enclausurados em prisões e a não esquecer os enviados para tortura e por fim morrerem em Cabo Verde, no campo de concentração do Tarrafal. Os trabalhadores eram escravizados, faltava-lhes “a saúde, o pão, a cultura e a habitação”. Famílias viviam na miséria, no medo, na carência e na opressão... uns já não acreditavam na hipótese de fugir às amarras do Estado paternalista, outros queriam e fizeram a revolução, uma revolução com sangue que apenas naquele dia não foi derramado... no Dia 25 de Abril!
José Afonso é uma das figuras mais emblemáticas do Abril de 1974. Autor de “Grândola Vila Morena”, a sua voz gritou mais alto do que muitas das muralhas da opressão. Por entre as ondas da rádio foi o seu canto que deu luz verde aos militares que avançaram para a Revolução. A partir daí, a Liberdade!
Mais do que um mito, o Zeca foi um Homem do mundo, do país, da Capital e até mesmo de Campo de Ourique. A sua passagem pelo Bairro, em ‘79 foi recordada por Rui Santos, no jornal O Bancário, que disse “quis o tempo que vivemos proporcionar um contacto esporádico mas muito marcante, quando o Zeca, antes de entrar no palco, sentiu a garganta arranhada, com o muito fumo que havia no pavilhão do CACO e teve necessidade de a molhar com um cálice de vinha da Madeira, convidando-nos para o acompanhar ao balcão do Canas, onde afinou a garganta, para depois cantar alguns dos seus inesquecíveis poemas”.
Zeca foi assim… um poeta, um andarilho e um cantor que deixou marcas nos locais por onde passou, sempre com humildade!

O Zeca costuma ser recordado no dia 23 de Fevereiro, este ano com maior destaque por se marcarem 20 anos sobre a sua morte. Acredita que as homenagens têm vindo na altura certa?
Helena Afonso -
Este género de datas, também chamadas de “data padrão” são pretextos utilizados para lembrar figuras de pessoas, isso pratica-se em todo o lado e neste caso não é excepção. O que eu condeno e acho quase escandaloso é que o Zeca, uma figura nacional e mesmo invulgar dentro do seu género seja tão poucas vezes recordado e a sua obra, a sua música, tão pouco passada nos Media. É raro ouvirmos uma das suas canções na rádio ou na televisão, para não dizer que não existe um único documentário, que mereça essa designação, sobre a sua vida. Não há uma preocupação nem um interesse em abordar uma figura que dá nome a ruas, a escolas e a parques... Eu olho com algum cepticismo para as comemorações e para a concentração de uma série de referências na televisão e na rádio porque passaram-se 20 anos e neste espaço de tempo podemos contar as vezes em que a figura do Zeca foi abordada.

As emissoras nacionais devem ter maiores responsabilidades na divulgação da música portuguesa?
Helena Afonso –
Com certeza! Eu sou a favor das quotas obrigatórias que se aplicam em muitos países, nomeadamente a França, onde se ouve a música nacional com regularidade... a quota que ali foi instituída também o deveria ser em Portugal. Caso contrário, ficamos totalmente dominados pela música anglo-saxónica, a música comercial de pior qualidade...

Para além de cantor de intervenção, o Zeca também foi um defensor da música popular. Muitos jovens associam o popular ao pimba, o que pode contribuir para tornar este um género em vias de extinção...
Helena Afonso –
É evidente que a música do Zeca está perfeitamente ligada a raízes etnográficas, à qual foram sendo acrescentados elementos de outras influências, como a africana, o jazz, ou a música moderna e contemporânea. Em relação aos mais novos, o que posso dizer é que o conhecimento começa no ambiente familiar e cultural! Hoje assisto a estudantes com batina a ouvirem coisas atrozes e horrorosas que nada têm a ver com o fato coimbrão e com a música popular portuguesa, o que é uma deturpação quase obscena das composições com qualidade!

No concerto do Coliseu, o Zeca apresentou a Grândola Vila Morena dizendo “agora vamos cantar aquela novíssima canção...”. Esta música tornou-se enfadonha?
Helena Afonso
– A Grândola ganhou uma dinâmica própria e emancipou-se como canção. Foi utilizada, cantada e mesmo manipulada em toda a espécie de situações... existe uma identificação natural, pelo menos de uma certa geração, à volta da Grândola e um conceito que a tornou numa espécie de complemento ao Hino nacional pela liberdade, que é o significado do 25 de Abril. Imagino que o Zeca, tendo de a cantar em repetidas situações, se cansou um bocado e tinha alguma ironia ao falar nisso. Ele não era um cantor que gostasse das coisas demasiado fáceis, que se resumissem a um estandarte, ele exprimia-se através da música e procurava textos mais subtis e a Grândola era uma música escarrapachada e que era cantada em todas as manifestações e comícios! Cheguei a assistir, no estrangeiro, a grupos de estrangeiros a cantarem o Hino nacional e a Grândola no Dia de Camões!

“Do Congresso Democrático da Oposição surgiu uma grande movimentação, fizeram-se murais, abaixo-assinados, manifestações, ocupações como a da Capela do Rato…”

Como era a vida antes da Revolução, a PIDE era realmente atroz?
Jorge Luz –
A PIDE prendia indiscriminadamente os opositores à Guerra Colonial, ao Regime Salazarista, às denúncias quanto a situações de miséria... A PIDE era o que era, prendia, espancava, oprimia!
Helena Afonso –
Lembro-me claramente do ambiente de tensão que havia na altura, devido a um conjunto de acontecimentos. Em 1969 tinha sido a revolta dos estudantes em Coimbra e que teve uma grande projecção no meio estudantil, que não era um meio de subestimar, pois nele enquadravam-se as elites do país, muitos eram filhos de militares e de políticos e não podemos esquecer que na época só esses é que estudavam... As frentes de batalha da Guerra Colonial tinham-se agravado, as gerações estavam traumatizadas com essas questões, todos os jovens sabiam o que os esperava...
Jorge Luz –
Todos os jovens dessa altura têm amigos que foram mortos na Guerra... Essa era a grande luta, ir ao centro do Regime e pôr-lhe um fim!
Helena Afonso –
E esse era também o grande tabu do fascismo! Era um assunto intocável e a censura não permitia que se falasse em nada! O tema era cada vez mais premente e dava direito à prisão em Caxias, em Peniche, em deportações, etc, etc... Em 1973 deu-se o Congresso de Aveiro que por se referir à Guerra Colonial mobilizou a sociedade portuguesa, que ia da Igreja ao Partido Socialista, ao Partido Comunista e a toda a oposição portuguesa...
Jorge Luz –
E aliás, acabou com uma intervenção da polícia de choque a espancar toda a gente...
Helena Afonso –
Alarmou toda a cidade mas foi o primeiro Congresso da Oposição Democrática que conseguiu trazer à tona a questão da Guerra Colonial, cuja problemática foi debatida durante três dias seguidos. Daí surgiu uma grande movimentação, fizeram-se murais, abaixo-assinados, manifestações, ocupações como a da Capela do Rato... o que não sabíamos nem podíamos imaginar é que os Capitães de Abril, aqueles que eram directamente afectados pela Guerra, já se estavam a organizar!

Ainda antes do 25 de Abril, o Jorge chegou a ser preso com o Zeca. Como foi esse episódio?
Jorge Luz –
Em vésperas do Dia 1º. de Maio era habitual a polícia prender. Prendia indiscriminadamente dezenas, centenas de pessoas... nesse dia fui preso com umas dezenas de colegas da Faculdade de Ciências, tal como o Zeca! Seguimos para Caxias, como geralmente acontecia nessas situações. Havia um jornal clandestino que se chamava “Missão de Apoio aos Presos Políticos” e que continha uma lista incrível e interminável dos detidos. Os estudantes e os operários tinham uma luta comum, que era a luta contra a Guerra e obviamente o Regime anterior ao 25 de Abril não perdoava isso!
Helena Afonso –
Temos de dizer uma coisa importante! Pessoas como o Jorge ou o Zeca foram presas até ao fim do dia mas os dirigentes operários foram presos, na mesma altura, durante a noite. A polícia invadia as casas das pessoas para as levar! Não podemos esquecer que este foi um país de classes e ainda o é. Até nisso havia uma distinção entre os estudantes e os trabalhadores!

Passamos à pergunta da praxe, onde estava no 25 de Abril de 1974?
Helena Afonso –
Eu estava em Setúbal, no Liceu. A partir da madrugada começaram a haver uma série de telefonemas e as pessoas perceberam que não havia escola, a perguntar “já ouviste umas coisas esquisitas na rádio?” e isso provocou um pavor geral. Há poucos meses tinha havido uma tentativa de golpe levada a cabo pelos Ultras da Direita e isso gerou uma grande dúvida. O receio só se dissipou quando foi ouvida a Grândola Vila Morena...
Jorge Luz –
Eu estava há alguns meses exilado em Paris, a tentar organizar a minha vida para continuar a estudar. Soube do 25 de Abril por volta do meio-dia, alguém entrou aos saltos a falar de uma Revolução em Portugal e... no dia seguinte eu estava cá!
Helena Afonso –
O 25 de Abril foi um acto libertário, algo completamente inesperado... finalmente era o fim daquilo! Foi um efeito surpresa completamente fantástico! Num tempo rodeado por escutas e por toda a espécie de vigias a situação foi tão inédita que começámos todos a telefonar e a passar informações e quanto mais se apelava à calma maior era a euforia. O pessoal irrompeu para a rua, aquilo foi um “a ver se te avias” e num instante as pessoas estavam todas juntas a festejar.

“As políticas de Emigração deste país sempre foram hipócritas”

Passados mais de 30 anos, o que falta para que os sonhos dos “construtores” de Abril se tornem realidade?
Jorge Luz –
Para além de ter sido um grande artista, músico e cantor, o Zeca foi um homem que denunciou todas as prepotências do poder neste país e a maior homenagem que lhe podemos prestar é continuar a denunciar determinadas situações.

Em tempos de repressão, as denúncias eram subtis e talvez por isso mais interiorizadas. E agora, quais são as melhores formas para denunciar?
Jorge Luz –
Agora podemos denunciar sem medos...
Helena Afonso –
No 25 de Abril as pessoas tinham uma série de objectivos que diferiam mas existem outros nomes à escala Mundial que recolocam a questão do indivíduo na sociedade. No tempo da repressão era evidente quem era o inimigo mas hoje as coisas são mais complicadas! Aparentemente existem melhores condições de vida e de acesso à Cultura e a muitas outras coisas, mas existem novas máfias que concentram em si o acesso ao dinheiro e ao poder.
Eu recordo-me dum episódio em que não haviam eleições livres mas que o Zeca e outros se punham em frente às fábricas porque tinham descoberto uma cláusula que dizia que era permitida a angariação de cidadãos para se inscreverem em listas de votos, ninguém estava interessado em votar por só haver um partido... Eles colocavam-se à porta das fábricas com listas de recenseamento, o que estava dentro da lei, mas falavam com a pessoas sobre os seus próprios interesses.
Para mim esse era um trabalho genial e de cidadania! O Zeca era um homem teimoso e com uma imaginação sem fim.
Uma situação que considero escandalosa e que deve ser denunciada refere-se às políticas de Emigração deste país, que sempre foram hipócritas. Nunca se fez nada para apoiar os emigrantes, não existem apoios para os que pretendem regressar, nem para as terceiras gerações que nasceram no estrangeiro. Houve sim um consenso silencioso quanto à utilidade de receber os rendimentos que vêm dos emigrantes. O Estado devia procurar formas de gerir certas zonas rurais do interior e apostar em incentivos que levassem as pessoas a fixar-se nessas áreas. Esta vaga é contínua, vai prosseguir, há um envelhecimento da população e são os jovens que continuam a sair do país!

O nosso Bairro vive paredes meias com o antigo Casal Ventoso e as consequências da droga são notórias. Será que esta foi uma moda do pós 25 de Abril?
Helena Afonso –
A droga é um negócio claramente introduzido para se criarem consumidores. Nos bancos suiços, por exemplo, a droga produz mais dinheiro do que negócios como o do petróleo. A droga sempre existiu e uma das vantagens do 25 de Abril é podermos falar das coisas mais abertamente...

“No 25 de Abril estava praticamente escondido em casa de um amigo. Dedicava-me então sobretudo a vender e distribuir livros panfletos proibidos, em especial a propósito da Guerra Colonial. A Pide andava em cima de mim e eu dormia sempre fora de casa. Tinha tido um convite para ir cantar a Paris com o Paco Ibañez e fiz constar que estava lá. Mas, de facto, estava cá. De dia tinha aquelas actividades e à noite dormia em casa de amigos. Foi na altura em que arrecadaram muita gente e a repressão exercia-se sobre aspectos que já nem eram organizativos.”
A vida e a obra do Zeca tem vindo a ser divulgada por familiares, amigos e simpatizantes que constituem a Associação José Afonso, um grupo que há muito ultrapassou os mil associados e que pode ser visitada em www.aja.pt.

M.A.

O “Meu” 25 de Abril

Passados todos estes anos sobre o 25 de Abril de 1974, parece-me fácil reflectir sobre a data, sem paixão ou ódio, euforia ou desânimo, saudosismo ou hostilidade. Hoje, é com relativa objectividade que recordo a efeméride, numa perspectiva desinibida, calma e, de alguma maneira, distanciada.
Eu penso situar-me num campo de ideias, em que não existem profissões de fé ou de ortodoxia, o que não impede que considere o 25 de Abril como uma data histórica bastante importante, talvez a mais importante do século XX português. Por isso, presto aqui a homenagem ao 25 de Abril, que não é de militares ou de civis, de radicais ou de moderados; pertence, isso sim, à História da luta contra a Tirania, não obstante as adulterações, as apropriações, as palavras ocas e os lugares comuns, com que habitualmente é comemorado.
Nós, aqueles que viveram naquele tempo de opressão e insegurança que durou até Abril de ’74, sempre à espera da presença obsessiva e indesejada de censores, inquisidores, polícias do espírito e do corpo, torcionários, bufos, tiranetes, patrioteiros e outras outras espécies que, parecendo estar extintas, se encontram, muito provavelmente, em hibernação…
Nós, aqueles que guardam, nostálgica e amorosamente, nos armários da memória, as bandeiras, as palavras de ordem, o poder da Imaginação e a Imaginação ao Poder…
Nós, aqueles que viveram tudo isso, pensamos que estes anos de Abril vieram redimir uma História de Portugal não tão mítica, não tão exemplar e imaculada, como o querem todos os irredutíveis de todos os quadrantes, de todas as situações, de todas as cores políticas e filosóficas…
Para mim, e para tantos outros:
- O 25 de Abril é não vermos crianças e jovens fardados, fazendo a saudação totalitária, marchando, cantando e rindo, ao som de hinos chauvinistas, militaristas e obsoletos.
- O 25 de Abril é não ouvirmos vociferar que estados, povos e nações são “nossos”, nem que seja pela força das armas.
- O 25 de Abril é podermos inundar as ruas, protestando, apoiando, atacando, cantando e rindo, sem termos cravados na carne e na alma, o ferrete de qualquer organização “patriótica” ou vivermos à sombra paternalista e tutelar do Tirano de serviço.
- O 25 de Abril é podermos ser “contra”, sem por isso sermos perseguidos, marginalizados, expulsos, exilados, detidos, vilipendiados, humilhados, ofendidos, torturados, assassinados.
- O 25 de Abril é sermos donos dos nossos destinos, não obedecermos a padrões impostos. É defender ideais, é ser, estar, ir, intervir, julgar, defender, atacar sem sermos alvo de intimações, inquéritos, proibições e obrigatoriedades.
- O 25 de Abril é não termos medo de ouvir, ver, falar, escrever, ler, emitir opiniões. É, inclusivamente, sermos contra o próprio 25 de Abril.
Insegurança, desemprego, mediocridade, “antigamente era melhor”, capitalismo selvagem, neoliberalismo, “o Ditador é o maior Português de sempre”, cultura “pimba”, geração rasca, inversão de valores, são só a lógica outra face da mesma moeda. São, parafraseando o Poeta, as malhas que a Democracia tece!
E, depois, é tão bom pegar no jornal, ler o livro, ver o filme, ouvir o cantor, admirar o actor, sem deparar com a aviltante e humilhante advertência “Visado pela Comissão da Censura”.
Só por isto mereceu a pena Abril. E é por isso que, não temendo proferir um estafado lugar comum, eu continuarei a dizer:

“25 DE ABRIL SEMPRE”

Fernando J. Almeida

Desporto

HÓQUEI EM PATINS

CAC Ourique perde em Vialonga
Mas mantém liderança!

E na última jornada da 1ª volta, o conjunto de Campo de Ourique perdeu. Derrota averbada em Vialonga por 4–2 mas que não lhe retira o primeiro lugar. A equipa de Vialonga que apenas tinha um ponto, surpreendeu tudo e todos e derrotou o líder, passando agora para a segunda posição com menos dois pontos que o CAC Ourique. A próxima jornada torna-se assim quase como uma final, já que a deslocação ao pavilhão do Bom Sucesso, que partilha a segunda posição com o Vialonga, será com certeza um teste difícil de ultrapassar. Na 1ª volta registou-se um 7–4 a favor da formação de Campo de Ourique, agora na fase decisiva da prova, esperemos que o resultado seja similar. Uma vitória em Bom Sucesso será um passo de gigante para vencerem o campeonato, já que os restantes jogos do CAC Ourique serão realizados em Campo de Ourique.

BOXE

Gala do Lisboa Futebol Clube
Mulheres valentes

A gala de boxe do Lisboa Futebol Clube, popular agremiação do Bairro de Alcântara, realizada no Arena do Sindicato de Estivadores de Lisboa, ficou positivamente marcada por dois excelentes combates femininos, que arrancaram enormes aplausos e elogios do numeroso público presente.

Em -54 kg. Carina Costa exibiu enorme raça e determinação, perdendo pela margem mínima, com a experiente Dayana Silva (Água Viva). Já nos -65 kg. Cristina Nobre, bateu-se de igual para igual com a campeã de kickboxing e só no último assalto teve ligeira baixa física, sendo vencida aos pontos pela margem mínima por Carla Silva (Água Viva).
Outro destaque, pela negativa, foi a polémica decisão no combate -69 kg, ao ser atribuída a vitória aos pontos para Mikael Polunochev, numa contenda parcialmente dominada por Orlando Jesus jr.
“Esta decisão é injusta pelo que se jogou no ringue. Os árbitros e respectivos dirigentes precisam de enorme reciclagem” referiu Orlando Jesus, pai e treinador do pugilista do C.D. Arroios.

Outros resultados:
-64 kg. Paulo Oliveira venceu aos pontos Bernardino Brito;
-69 kg.Wellington Passos ganhou Manuel Abrantes;
-54 kg. Pedro Matos bateu Alexander Falalev;
-60 kg. André Santos venceu aos pontos Andry Khoda.

“Tirando algumas decisões injustas de arbitragens, a sessão teve bom nível técnico e competitivo, e assim comemoramos a nossa gala” disse Paulo Seco, treinador principal do Lisboa Futebol Clube.

L.P.

Automóveis

Kia Cee’d 1.6 CRDi EX
O Conquistador

O Kia Cee’d 1.6 CRDi EX possui uma boa qualidade de construção, um motor agradável de explorar, uma habitabilidade e mala generosas para a classe e uma boa relação preço/equipamento. E como que a confirmar a confiança no seu produto, a marca coreana avança com um argumento de peso: sete anos de garantia.

Na história da reconquista cristã da Península Ibérica houve um cavaleiro que ficou famoso pelos seus feitos guerreiros. Chamavam-lhe Cid, o Campeador. Hoje em dia, a conquista da Europa, por parte da marca coreana Kia está também a cargo de um Cee’d, que possui trunfos suficientes para poder vir a tornar-se um campeão de vendas.
Confirmando a confiança que o construtor tem neste seu produto, temos uma interessante garantia de sete anos ou 150.000 km, facto que não deixará indiferente potenciais clientes.
Mas mesmo que este argumento de vendas não existisse, o certo é que a qualidade do produto é indesmentível, não só ao nível da construção, materiais e montagem, como do conforto de condução, motor, suspensão e leque de equipamento.
Uma estética exterior sóbria mas moderna envolve um muito espaçoso habitáculo (dentro da classe), capaz de acolher confortavelmente cinco adultos, ao passo que a mala revela uma boa volumetria para o segmento.
A posição de condução é correcta, e os comandos e instrumentos a par de uma boa ergonomia ostentam uma estética moderna e cativante. Além disso, existem uma série de pequenos e úteis gadgets, como a ficha USB para ligar equipamentos áudio, por exemplo.
Refira-se ainda que em termos de equipamento de conforto e segurança, este Kia Cee’d 1.6 CRDi
EX está muito bem equipado, sendo poucos os opcionais em falta.
Em estrada o motor 1.6 CRDi, que debita 115 CV às 4.000 rpm e um binário máximo de 255 N.m constante entre as 1.900 e as 2750 rpm, mostra um bom nervo na subida de regimes, sendo muito agradável de explorar. A suspensão, apesar de alguma dureza, é confortável e digere bem as irregularidades do piso.
Esta unidade apresenta um preço final de 31.740 euros, um valor que não choca se tivermos em conta o nível de equipamento, do qual se destacam opcionais como a pintura metalizada (250 euros), os estofos em pele (900) e o ESP (600).

Ficha Técnica

Cilindrada (cc) 1582
Potência máx. (CV/rpm) 115/4000
Binário máx. (N.m/rpm) 255/1900~2750
Emissões CO2 (g/km) 126
Velocidade máx. (km/h) 188
Aceleração 0/100 km/h (seg.) 11,5
Consumo misto (l/100 km) 4,7
Preço versão (€)
31.740

Túlio Gonçalves

Automóveis

Nissan Note 1.4 16v Acenta
Um grande pequeno

Através do seu modelo Note, a Nissan oferece o acesso a uma boa proposta dentro do segmento dos monovolumes compactos. Ágil e agradável de conduzir na cidade, mostra-se ainda capaz de garantir boas e confortáveis viagens.

Quando entramos no Nissan Note não podemos deixar de sentir uma agradável sensação de espaço, que surpreende tendo em conta as dimensões e o segmento desta proposta.
O interior deste Note 1.4 16v Acenta é agradável e está equipado q.b., sendo a posição de condução correcta e agradavelmente sobrelevada. Cinco adultos encontrarão o espaço suficiente para se acomodarem confortavelmente.
Os comandos e instrumentação são de fácil manuseamento e consulta, o volante oferece uma boa pega e o banco do condutor oferece um bom apoio.
No que respeita ao equipamento de conforto e de segurança, esse não desmerece face à concorrência e pode dizer-se, é um dos trunfos desta proposta!
A nossa versão montava o motor 1.4 litros (88 CV às 5.200 rpm), que como é natural embora não seja um portento, se demonstrou sempre à altura das mais exigentes solicitações urbanas. Se em cidade oferece uma boa agilidade e facilidade em subir de rotação, permitindo fluir sem dificuldades no trânsito, já em estrada mostra-se menos à vontade e revela consumos algo gulosos. Aliás, o consumo misto anunciado por fábrica é de 6,3 l/100 km.
O preço desta versão começa nos 17.584 euros, podendo a mesma ser enriquecida através de uma bem recheada lista de equipamento.
Em jeito de resumo, podemos afirmar que o Nissan Note 1.4 Acenta é uma opção a ter em conta pelos chefes de família que querem um veículo versátil, simpático e espaçoso.

Ficha Técnica

Cilindrada (cc) 1386
Potência máx. (CV/rpm) 88/5200
Binário máx. (N.m/rpm) 128/3200
Emissões CO2 (g/km) 150
Velocidade máx. (km/h) 165
Aceleração 0/100 km/h (seg.) 13,1
Consumo misto (l/100 km) 6,3
Preço desde (€) 17.584

T.G.

Ambiente

Óleo no cano? Não!

Muitos são os que gostam de um bife tenro acompanhado por boas batatas fritas caseiras. Certo, é que o óleo usado para fritar e voltar a fritar as nossas batatas, mais tarde ou mais cedo, tem sempre o mesmo fim - o cano de nossas casas! Assim, sem sabermos, estamos na origem duma catástrofe ambiental de pequena escala. Porquê? Porque cada litro de óleo que vertemos no cano é suficiente para contaminar aproximadamente 1.000.000 (um milhão!!!) de litros de água; o mesmo que cada um de nós consome, em média, durante 10 anos. Os litros de óleo que usamos durante um ano são muitos; ora são para batatas, petinga, jaquinzinhos, filhós, rabanadas e mais outras tantas iguarias. O grande problema é que estes “poucos” litros de óleo usado contaminam milhões e milhões de litros de água. Como todos nós fazemos isto em nossas casas, o volume de água contaminada é incomensurável.

De qualquer modo, não desanime. Pode fazer algo para evitar esta situação! Primeiro comece por não deitar fora a garrafa de óleo vazia. Guarde-a. Faça os seus cozinhados, as suas batatas fritas e fritos que tais e quando se estiver a preparar para deitar pelo cano o óleo usado… Pare! Vá buscar a tal garrafa de óleo vazia e verta lá para dentro esse óleo que estava quase a ir pelo cano. Tape bem a garrafa, feche-a num saco do lixo e deite-a no contentor. Este óleo vai agora para o aterro sanitário ou para a incineradora, deixando de causar um dano ambiental grave a um recurso cada vez mais precioso, a água.

Pensa que resolveu o problema? Não inteiramente! Ainda podemos fazer um pouco melhor. Sabia que o óleo alimentar usado pode ser processado e transformado em biodiesel? O biodiesel é um combustível, o mesmo que 18 autocarros da Carris já utilizam. Então a quem dar o óleo alimentar usado para que daí se fabrique biodiesel? Pois, aqui é que a situação se complica. Na verdade já existem algumas empresas especializadas um pouco por todo o país, mas apenas recolhem o óleo alimentar usado em restaurantes e cantinas. Ainda não existe um sistema de recolha global que permita entregarmos o óleo que usamos em nossas casas.

Eu lembro-me, que no início da década de 90, ia depositar o papel usado, jornais e revistas velhas no centro de limpeza da Câmara Municipal de Lisboa da Rua Correia Teles, em Campo de Ourique. O outro centro de recolha que conhecia ficava bem longe, na Av. Infante Santo. Na altura o meu pai dizia “se queres fazer reciclagem, vais lá tu levar o papel”! Agora, passados 15 anos, existem contentores de reciclagem dispersos nos bairros, não só de papel mas também de vidro e plástico. Ah, e agora quem recicla é o meu pai! Então, porque não começar por entregar o óleo usado, que afinal é uma matéria-prima em bruto, nestes centros de limpeza da CML? Por muito utópica que esta ideia possa parecer, seria excelente que as nossas juntas de freguesia (Alcântara, Campolide, Lapa, Prazeres, Sta. Isabel, Sto. Condestável e São Mamede) conseguissem implementar um protocolo com empresas de recolha de óleo alimentar usado para que estas aí instalassem os meios necessários à sua recolha. Assim, o óleo alimentar usado que era uma ameaça ambiental pode ser uma matéria-prima valiosa. Com a sua recolha generalizada alcançar-se-ia uma melhoria ambiental significativa e seria um exemplo a seguir pelas restantes freguesias da cidade e do País. O desafio está lançado!

Tudo isto, porque nunca nos podemos esquecer que a Terra não é só nossa, é também de todas as gerações vindouras!

Pedro Morais