12.4.07

EDITORIAL

No dia 25 de Abril de 1974, tinha eu não muitos anos de idade, quando fui confrontado com a possibilidade de não ir trabalhar, parece que estava a acontecer qualquer coisa de muito especial… Na altura, eu trabalhava na empresa EFACEC e estudava á noite!

Como era ainda um adolescente, uma Revolução - segundo disse a minha mãe preocupada - seria uma novidade para mim, mas pelo sim pelo não, o melhor mesmo era ficar em casa… Ainda assim, claro que não deixava de ser uma excelente notícia!

Contudo dava para perceber a esfuziante alegria que pairava por toda a rua e mais tarde por toda a Capital. Acordei na altura a ouvir Grândola Vila Morena e só umas horas mais tarde percebi o significado. Para mim, canções proibidas seriam mais “je t´aime móis non plus”…

Naquela altura e durante ainda algumas semanas, passei por situações completamente estonteantes. Uma noite, findo o jantar, o meu pai atendeu o telefone e disse “tens de ir para o emprego, parece que vais fazer parte de um piquete de greve”… quando cheguei à Rodrigo da Fonseca, o administrador estava fechado no gabinete e só a sua secretária tinha o direito de lá entrar até aparecer, passados uns dias a “Copcom” para o libertar.

Como não havia computadores, todos os desenhos de projectos tanto para elevadores como para postos de transformação de alta ou baixa voltagem eram feitos a “rotring”, em estiradores, em papel vegetal ou BJ, que permitiam cópias em “ozalid” e tudo isto era feito por imensos desenhadores, em grandes salas forradas a papel de cenário, com as figuras mais proeminentes das grandes revoluções dos países de leste. Havia até quem só se deslocasse munido da sua boina à Ché Guevara, havia cravos e crachás por todo o lado, era bonito de se ver! Agora faz lembrar aqueles estudos que se fazem à saída das universidades, “o que é que quer ser quando for grande, ou daqui a quinze anos”? O entrevistador guarda a resposta e volta a consultar o mesmo entrevistado de há quinze anos atrás e pergunta “então conseguiu o seu objectivo?”. As estatísticas dizem que nove em cada dez alunos não estão a fazer o que gostam ou aquilo para que estudaram.

Claro que já não guerra no Ultramar nem presos políticos…

Isto é o que me lembro da Revolução dos Cravos!

Augusto da Fonseca

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