DE “FILHO” A PRESIDENTE
Podemos dizer que João Ferreira é um filho do Bairro de Santa Isabel, foi essa a Freguesia da sua criação e muitos dos habitantes ainda recordam, com algum saudosismo, o menino que brincava e jogava à bola naquelas ruas.
Com três mandatos no currículo, o primeiro como membro da Assembleia de Freguesia, o segundo ocupando o cargo de secretário e agora no papel de presidente, João Miguel Martins Ferreira tem 28 anos e é um homem confiante. Profundo conhecedor dos problemas de Santa Isabel, a sua prioridade enquanto autarca reside em servir a Freguesia e respectivos habitantes, muitos deles que o viram crescer.
Foi com simplicidade que o autarca recebeu o JB e nos deu a conhecer muitas das nuances com que vai dinamizando o Bairro que preside.
Como caracteriza a Freguesia de Santa Isabel?
Para começar é uma das melhores freguesias da cidade de Lisboa, tem uma história muito própria, um cariz bairrista muito peculiar onde as pessoas se cruzam na rua e se cumprimentam e por isso é uma Freguesia agradável. Em termos de população, conta com uma faixa etária elevada, muitas pessoas vivem aqui há cerca de 40 ou 50 anos, mas também já começamos a assistir a algum rejuvenescimento, diversos jovens têm vindo para os prédios que estão a ser recuperados... Tradicionalmente é uma Freguesia algo envelhecida, não só de pessoas mas também de habitação.
Que incentivos utiliza para atrair uma população mais jovem, com vontade de morar e de se instalar no Bairro?
De uma forma global, temos vindo a apostar na reabilitação.
De facto temos uma zona da Freguesia, entre a Rua Pedro Álvares Cabral e a Rua de São Bento, onde se está a assistir a muita construção nova, muita reabilitação, ou seja, muita oferta de qualidade para diversas camadas, mas principalmente para os mais jovens com uma única dificuldade que é o preço das casas.
Por outro lado, esta é uma Freguesia muito sossegada, com muito boas acessibilidades. Temos o Largo do Rato com o Metro, temos autocarros, temos as Amoreiras. Em termos de projectos temos uma sala multimédia para a juventude e uma biblioteca com 2 mil livros catalogados. Fizemos uma aquisição de diversos computadores para postos de internet...
Há um conjunto de projectos, não há é espaço para implementá-los e é essa a maior dificuldade neste momento...
Que balanço faz do seu percurso como presidente, agora que cumpriu cerca de meio mandato?
Há um trabalho de base que não é mérito deste executivo mas que tem sido também dos anteriores e que está a ser realizado no apoio à população, através de medicamentos, de alimentação ou de passeios convívio. Esse trabalho de base mantém-se constante, isto numa primeira linha de oferta à população.
Numa segunda linha e esta é uma grande aposta deste executivo, a ideia é concretizar projectos que englobem toda a Freguesia, mas não só! Enquanto os medicamento e os cabazes abrangem 50 a 100 pessoas, que são um público alvo reduzido, há uma necessidade de apostar em iniciativas a que a maior parte da população tenha acesso.
Num momento em que estamos a meio do mandato, as principais dificuldades referem-se à lentidão na procura de respostas por parte das entidades que nos são superiores, o que é suficiente para atrasar qualquer projecto. Como estamos a apostar em ideias inovadoras e não existe nenhum estudo ou trabalho realizado em relação a elas, estamos a partir do ponto zero.
Referiu-se há pouco a um serviço de distribuição de medicamentos e de cabazes. Que outros projectos têm a nível de apoio Social?
O apoio Social de primeira linha consiste na distribuição de medicamentos pelas pessoas que comprovem ser carenciadas. Para além dos cabazes mensais, distribuímos senhas que permitem a algumas pessoas levantarem a sua refeição num estabelecimento da Freguesia. Também fornecemos apoio a pequenas necessidades que as pessoas possam ter.
Numa segunda linha lançámos um programa de desporto sénior, não só para combater a solidão mas também para que as pessoas mais paradas possam ter alguma mobilidade. “Santa Isabel em Movimento” consiste numa carrinha que percorre as ruas da Freguesia e leva as pessoas aos sítios que mais necessitam, como por exemplo ao centro de saúde ou às zonas comerciais. Digamos que este serviço visa combater os “altos e baixos” de uma das sete colinas da cidade de Lisboa.
Têm algumas infra-estruturas preparadas para apoiar os fregueses mais idosos?
Embora defenda que o que existe nunca é suficiente, posso dizer que dispomos de muito do que é essencial. Nós possuímos um centro de dia que se encontra no edifício da sede da Junta e que é gerido em colaboração com a Cruz Vermelha Portuguesa. Temos um edifício novo, com equipamento social novo, que foi posto à nossa tutela na Rua Ferreira Borges e que infelizmente ainda não abriu por não terem sido resolvidas algumas questões com o empreiteiro. É um edifício social que vai albergar jardim de infância, berçário, centro de dia e centro de convívio e que vai ser muito importante para Santa Isabel. Para além disso estamos a solicitar à Câmara de Lisboa o resto da infra-estrutura que ocupamos e que até à data se encontra abandonado. Temos ainda o projecto de uma universidade sénior para a população da terceira idade poder aprender informática e aulas de inglês numa dinâmica de integração social e de apoio à população.
A Junta dispõe de protocolos ou de parcerias com instituições de cariz social?
Estamos a realizar parcerias, mas esta grande questão andou algo abandonada e varia, consoante a vontade das pessoas. Neste momento está a ser constituída a Comissão Local de Acção Social da Cidade de Lisboa, estão a ser constituídos os núcleos a nível das freguesias e nós acreditamos que aí sim, é que se vai dar uma nova dinâmica e até um estreitamento de laços e de partilha e racionalização de recursos.
Sendo um “filho” do mesmo Bairro onde conta com 3 mandatos, quais são os principais problemas a nível social que a Freguesia atravessa?
Basicamente e fazendo o retrato da Freguesia, aponto como principais problemas as habitações degradadas e a consequente deterioração da condição de vida das pessoas que as habitam, as pensões são extremamente baixas e muitos vivem em situações limites.
Só mesmo andando pelas ruas, visitando os prédios e conhecendo a população é que nos apercebemos disso. As ruas inclinadas que dificultam a mobilidade e criam mais isolamento, são outro grande problema social.
De um modo global temos as questões comuns em toda a Cidade de Lisboa, como é o caso do estacionamento, das ruas estreitas onde não dá para passar uma cadeira de rodas ou um carrinho de bebé... Só uma política de topo é que poderá amenizar o problema!
Que medidas poderiam ser implementadas para minimizar essas dificuldades?
Costumo dizer que o trabalho de uma Junta de Freguesia é muito gratificante mas também muito ingrato, porque de todas as estruturas somos aquelas que mais conhecimento tem do terreno e uma noção mais pessoal dos casos, mas somos o que menos competência tem para a resolução dos problemas. Dou um exemplo, nós detectámos várias casas degradadas com condições miseráveis, no entanto a nossa postura está limitada... apenas podemos pressionar as instituições que estão acima de nós ou o proprietário do edifício para se fazer algo. Esta é uma acção muito limitativa e que parte pelo combate diário e pela pressão diária para tentar resolver os problemas. A solução é muito complexa, por isso o nosso trabalho consiste em minimizar, caso a caso, os problemas existentes. É nisso que este executivo tenta apostar todos os dias.!
Mudando de assunto e porque a Educação é um dos pilares fundamentais de desenvolvimento... Como é que a Junta se relaciona com a comunidade escolar?
Na questão da educação, atrevo-me a dizer que é uma das minhas grandes paixões e com uma particularidade. Santa Isabel deve ser das freguesias desta área a que mais escolas tem. Durante o dia temos uma população estudantil de perto de 4 a 5 mil alunos, temos o Pedro Nunes, tínhamos a Machado de Castro, temos as escolas públicas da Travessa de Santa Quitéria, o Grémio de Instrução Liberal de Campo de Ourique, o Jardim Escola João de Deus, ou seja, um conjunto de estabelecimentos de ensino considerável.
O nosso relacionamento é no sentido de apoiar tudo o que são iniciativas dos estabelecimentos, sejam públicos ou privados e manter uma presença permanente principalmente num deles, a escola primária EB1 Rainha Santa Isabel onde desenvolvemos - há cerca de 10 anos - um trabalho permanente na questão de apoio à família, dos ATL’s e no sentido de oferecer aquilo que a escola não consegue prometer à comunidade em geral. Temos uma equipa de 6 pessoas que diariamente desenvolvem trabalho na comunidade escolar.
Com o Pedro Nunes, o apoio é mais estreito, se bem que o apoiamos na medida do possível. Por exemplo, este ano comemorou-se o centenário do antigo liceu Pedro Nunes e hoje a Escola Secundária e a Junta de Freguesia contribuiu com uma medalha comemorativa. Esta é a medalha que vai representar Portugal no Concurso de Medalhística nos Estados Unidos, a realizar este ano.
A criminalidade tem vindo a afectar Santa Isabel?
A nível de segurança, posso dizer que os assaltos que ocorrem nesta Freguesia são pontuais, como o roubo de carros. Eu acho que o maior problema, neste momento, é a onda de graffitis que está a acontecer por todo o Bairro. Primeiro é a violação da propriedade privada ou pública, segundo é o aspecto degradado que do meu ponto de vista concebe às ruas e que inconscientemente se traduz numa falta de segurança. Para nós, esse é o maior problema!
Estamos a apostar, com a Câmara Municipal de Lisboa, no reforço da iluminação nas ruas, um pequeno passo que garante maior confiança aos fregueses e a não esquecer também o excelente trabalho que está a ser feito pela esquadra do Rato e a 1ª Divisão em geral, principalmente pelas equipas de policiamento de proximidade, muito em colaboração com a Junta de Freguesia.
Para além disso, estamos a desenvolver um trabalho conjunto com a PSP que consiste no lançamento de um folheto com conselhos de apoio ao comércio e aos comerciantes. No próximo mês vai sair um segundo folheto para a população mais idosa, também com conselhos úteis.
Esta é uma das freguesias mais antigas da Capital e parte significativa do seu património encontra-se devoluta. Embora esta não seja uma responsabilidade directa da Junta, a Câmara Municipal tem algum projecto específico para a zona?
Que eu saiba, para além da política camarária que está divulgada para Santa Isabel não existe um projecto específico, com excepção de duas zonas; uma primeira que foi a requalificação da Rua de São Bento, onde se está a fazer um trabalho a nível de reabilitação.
Isso pela positiva, porque pela negativa existe um problema que está focalizado no Plano de Pormenor das Amoreiras que já tem alguns anos e que incide directamente na Rua de Campo de Ourique, uma Rua tradicional extremamente degradada e onde se sente por parte da população uma grande indefinição quanto ao seu futuro. Algumas pessoas já receberam duas ou três cartas a dizer que para o ano têm de sair e até ao momento ainda não saíram.
Uma das formas de tornar alguns serviços da Câmara mais eficientes é o de descentralizar a tomada de decisão para as Juntas de Freguesia. Que descentralizações é que foram feitas até ao momento ?
Tudo o que a Câmara nos oferece para descentralização nós tendemos a protocolar! Achamos que conseguimos ter uma acção mais directa sobre a população, é por isso que as calçadas são da nossa competência, a manutenção dos espaços verdes, as reparações em habitações municipais e a acção social.
Que descentralizações gostaria de ter em Santa Isabel?
Gostava de poder tapar buracos no alcatrão... Compreendo que essa tarefe tem vários problemas inerentes, como fechar as ruas e solicitar a intervenção da Polícia Municipal, mas a quantidade de buracos começa a ser um grande problema desta Freguesia. A Câmara tenta dar resposta, mas penso que neste momento as Juntas estão em melhor posição de poder atender ao problema. Outro protocolo que podia ser associado a este é a pintura e manutenção de passadeiras para peões.
Que projecto é que gostaria de ver nascer na sua Freguesia?
Nós temos o nosso programa eleitoral e essa é a nossa promessa para a população. Mais do que resolver problemas é ter estruturas que os permitam resolver. O que tentamos nesta Freguesia é criar condições, ou pelo menos deixar trabalho para continuar. O que queremos é avançar com iniciativas dinâmicas para que a Freguesia seja uma Freguesia viva! Queremos que as pessoas tenham lugares de convívio, que os jovens tenham locais para estar e com os quais se identifiquem. Queremos que as pessoas possam passear nas ruas sem buracos e em segurança.
Para terminar, gostaria de deixar alguma mensagem à população?
A mensagem que eu gostaria de deixar é apenas uma, as pessoas que tiverem problemas venham ter connosco!
Às vezes somos conhecidos por fazermos muitos discursos em praça pública, por falarmos com o vizinho e quem deveria saber os problemas - para os tentar resolver - não está disponível. Faço um pedido à população, quer tenham dificuldades ou sugestões venham à Junta! Certamente faremos todo o possível para ajudar...
Helder Salsinha