2.2.07

Editorial

Escrever o editorial para uma primeira edição de um Jornal de Bairro é sempre um enorme prazer, principalmente quando esse Bairro é aquele que me viu nascer.

Quero com isto dizer que a partir de agora e numa primeira fase, todos os que trabalham, habitam ou simplesmente visitam os bairros de Campo de Ourique, Amoreiras, Campolide, Estrela, Lapa, Prazeres e Alcântara poderão contar connosco para ajudar a divulgar tudo o que de bom ou de menos agradável estes Bairros têm para oferecer.

Nesta capital europeia composta pelos Bairros mais castiços da Europa, não será de descorar a oportunidade de os eleger como fonte de atenção para os seus munícipes, que no fundo são a razão de ser da sua própria mas também da nossa existência.

Projecto ambicioso é certo, mas com um enorme espaço nesta imensa e linda região de Lisboa.

Haverão de certeza imensas coisas e acontecimentos de que teremos a obrigação de falar, de informar e de alertar. Algumas terão de ser mencionadas com algum custo, outras serão um puro prazer! Esperamos que o tempo de vida deste projecto assim o permita. É sempre difícil agradar a toda a gente, mas esse é o inconveniente menor de uma zona de Lisboa onde quase todos se conhecem.

Queremos ajudar a melhorar o relacionamento entre as pessoas e divulgar as Instituições, alimentando a esperança de poder usufruir de uma vida um pouco melhor, auxiliando a manter viva uma sociedade que se alimente da verdade.

O ano de 2007 aponta para uma retoma económica e para algumas melhorias - porque nem tudo é mau – e por isso considerámos a altura ideal para lançar este novo projecto.

Contudo será nosso dever informar com isenção, lealdade e transparência. Não vai ser tarefa fácil, mas ninguém disse que o seria! Estamos preparados para o futuro, esperamos ser compreendidos por todos e em todos os sentidos, sabemos das dificuldades que o país atravessa e também daquelas que nos esperam, mas acima de tudo somos portugueses, independentemente da região do País e isso significa que temos raça, dignidade e sentido de entreajuda.

Esperemos que assim seja!


Augusto da Fonseca

Cemitério dos Prazeres

ENCOSTA TENDE A DESMORONAR-SE
Parte da encosta do cemitério dos Prazeres ruiu em Dezembro e destruiu por completo uma oficina no Pátio Vaquinhas, nas traseiras da rua Maria Pia. Para já a situação não se promete agravar e os utilizadores do espaço mostram-se tranquilos.

A oficina que Abel Pedroso tinha há 30 anos, no Pátio Vaquinhas, antiga Quinta do Leão ruiu no início do mês de Dezembro. De acordo com o proprietário, aquela era a única dependência legal e ao desmoronar provocou um prejuízo no valor de cerca de 12 mil euros só em ferramentas, mas o perigo já era conhecido e o pior “já passou” avança Abel.

Para além da oficina que se despenhou estão ali mais dez garagens, “uns barracões que alguns reformados usam para se entreterem” e que têm a encosta do cemitério dos Prazeres como parede, um muro instável e coberto de pedras que ameaçam cair com o passar dos tempos.

Apesar do terreno ter um proprietário legal, os barracões não estão licenciados e a encosta, que é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, teria recebido a visita de "um grupo de engenheiros que veio analisar a situação" antes da queda lembrou o proprietário.

Actualmente Abel Pedroso utiliza um armazém, também no Pátio Vaquinhas, que lhe foi “emprestado” para “guardar umas coisas” mas que admite vir a aproveitar mais tarde, para efectuar alguns biscates, visto ser reformado.

Mas não é só no Pátio Vaquinhas que o muro do cemitério dá ares de sua instabilidade. Junto à Fonte Santa existe um terreno vizinho que é utilizado como morada de diversos pombais e onde parte da encosta também ruiu mas sem causar quaisquer prejuízos, “aqui não há perigo” explicou o senhor Manuel, um interessado pela columbofilia que nos acompanhou até ao local.
Mónica Almeida

JARDIM DA ESTRELA

ILUMINADO A LUSCO-FUSCO

O Jardim da Estrela está sem iluminação há vários meses e assim irá continuar até que a EDP reestruture as instalações eléctricas no local.

Este “ex-líbris” da cidade de Lisboa está às escuras desde que o sol se põe até ao amanhecer. A população sente-se insegura e apesar dos protestos que incluem mesmo a colocação de cartazes nos portões, as respostas tendem a não vir e é a escuridão que continua a alumiar o cenário de um dos mais conceituados jardins da capital cuja beleza se dissipa ao surgir da noite.
Nuno Ferro, presidente da Junta de Freguesia da Lapa lamenta a situação e diz que a responsabilidade pela manutenção do espaço é da Câmara Municipal de Lisboa. O motivo, por sua vez, aponta-o para a EDP, visto que há 4 anos, quando a Junta de Freguesia levou a cabo obras de reestruturação, a EDP não cumpriu a sua parte. De acordo com Nuno Ferro, “as fases subterrâneas foram queimadas e a Câmara Municipal colocou alguns projectores para resolverem a situação temporariamente”. No entanto, o pavimento tem algumas características especiais e deverá ter de ser substituído, obra que no entender do presidente irá ficar “cara”.
Enquanto a responsabilidade não é assumida, os cidadãos continuam a usufruir do espaço mas com reservas. Apesar de fechar às 24 horas serve de passagem para os “alunos que vão para a Lapa” e à noite a insegurança é geral.
Os utentes reclamam falta de segurança no local à noite mas Fátima Rocha, comandante da Polícia de Segurança Pública da 30ª. esquadra e responsável pela área avança que ainda que os agentes não estejam visíveis podem estar lá, sem ser fardados.
Queixas de assaltos ou crimes efectivos não existem, mas a PSP é abordada por alguns jovens, idosos e acima de tudo por pais receosos.
“As pessoas sentem-se inseguras, mais não podemos fazer” avança Fátima Rocha que acredita que a Junta de Freguesia devia tomar algumas medidas como “reforçar a iluminação ou cortar arbustos que escondem certos factos ilícitos que ali possam ser praticados”. Apesar de compreender a falta de orçamento, a comandante sugere a substituição dos candeeiros por focos, o que não implicaria grandes custos e poderia resolver a questão primordial.
No passado mês de Novembro o Jardim da Estrela foi visitado pelo vereador do Ambiente e Espaço Público, António Prôa e pelo Director Municipal e em conjunto com o presidente da Junta de Freguesia da Lapa fez-se um levantamento das carências do Jardim, “esperemos que a Câmara Municipal ali possa colocar alguns projectores” arriscou Nuno Ferro.
Para além das questões de insegurança, muitos utentes também contestam os tão habituais “presentes” que os cães deixam pelo jardim, uma questão mais relacionada com higiene e com estética, mas que apesar de simbolizar sorte aborrece quem por ali tem de passear de olhos pregados no chão.

VOZES DO BAIRRO

Já li a reclamação afixada na entrada do Jardim, mas a história das “matilhas de cães deve ser para rir”! Entre as 7:30h, 8 horas soltamos os cães ao pé do coreto mas eles estão sempre acompanhados pelos donos. As pessoas que passam no jardim a essa hora deviam agradecer, porque estes cães evitam que pessoas mais perigosas se juntem ali. Os donos são chateados por tudo e por nada, mas quando os animais são acompanhados nós apanhamos as porcarias, penso que quem diz isso não gosta de animais. Quanto à iluminação já esteve melhor mas houveram alturas em que nem com o meu cão, de grande envergadura, eu entrava no Jardim. O parque devia estar iluminado para os pais ali estarem com as crianças no Verão e não estão. Há muitas zonas com sombra no jardim e torna-se perigoso. Tenho ouvido dizer há ataques, se os há ou não, não tenho a certeza, como ando com um cão deste quilate sinto-me protegida porque sei que eles não se aproximam de mim.
Anónimo

A partir das 18:30horas já não passo aqui! Não sei porquê mas as luzes estão todas apagadas, antigamente haviam os candeeiros e já ali colocaram uns cartazes a dizer que vão arranjar, mas assim nem com o meu marido eu gosto de cá passar. Até já de dia é o que se passa. Outra coisa que tenho a dizer é sobre os cãezinhos, porque isto é uma porcaria aqui nas ruas, esta é a zona da Lapa mas deviam mudar-lhe o nome para “Rua da Caca do Cão”. Revolta-me ter sido gasto dinheiro, que com os impostos somos nós que pagamos, com um carrinho para a limpeza mas continuamos a não olhar para a frente, temos de passar aqui a olhar para o chão!
Maria Mendes

O Jardim é bastante inseguro à noite porque não há iluminação e as portas estão abertas, não sei até que horas, mas não há luz nenhuma!
Isto tem sítios bastante escondidos, uma pessoa passa aqui e facilmente é assaltada!
Bruno Agostinho

É de lamentar que o presidente da Junta de Freguesia mantenha este Jardim assim há um ano e meio e ele já lá está há um ano. Não tem luz, não tem segurança, as casas de banho estão sempre fechadas, é uma vergonha! Agora puseram aí uns cabos que deviam ser subterrâneos. Se a culpa é da EDP era responsabilidade da Junta comunicar-lhes! Ao longo de um ano não vemos um guarda cá fora. Comece a frequentar isto a partir das 17 horas e você vai ver!
Francisco Serpa

M.A.

Bairro do Tarujo


“VIVER NA MISÉRIA” EM CAMPOLIDE

O bairro do Tarujo é vizinho do Aqueduto das Águas Livres e da estação de comboios de Campolide. Apesar de se situar próximo do caminho rotineiro de quem vem de outros lados, o Tarujo é quase invisível aos olhos menos atentos dos transeuntes e a população diz-se mesmo “esquecida” pela autarquia.

Luís Manuel e Amélia vivem numa “casa rústica” à entrada do bairro do Tarujo, ele desde 1996 e ela desde 2002. Receberam há cerca de 3 meses a visita de assistentes sociais que lhes indicaram que o anterior Plano Especial de Realojamento – PER, deixou de fazer efeito e terá de ser criado um novo, para que em breve também eles tenham direito a uma nova habitação, à semelhança das famílias que há seis anos dali saíram para serem realojadas no Bairro da Serafina e no Bairro Padre Cruz, entre outros.

O alerta foi dado pela Lusa, que noticiou que “ervas altas, entulho, barracões abandonados e casas devolutas em ruína, algumas ocupadas por toxicodependentes e outras entregues aos ratos e cobras” seriam a realidade deste Bairro, características que o casal não nega mas reconhece já terem sido piores, “é verdade que existem aqui toxicodependentes, toda a gente corre com eles mas eles regressam”. Assaltos também não há a registar, o que acontece por vezes são brigas, mas regra geral Amélia não se diz perturbada.

O casal reclama estar a “viver na miséria”, e Luís Manuel lamenta ter os dois filhos - que lhe foram entregues pela anterior companheira - num colégio em Carcavelos, uma solução que teve o apoio da assistência social, afinal as crianças “não podem estar aqui porque vivemos numa barraca.”

Amélia denuncia que “existem pessoas que têm as casas alugadas para viver nas barracas e nós que queríamos ter os filhos ao pé não podemos”, porque apesar da Câmara Municipal de Lisboa ter prometido atribuir-lhes uma casa no Alto de São João, “o prometido não foi devido” e o casal aguarda a sua vez. Luís Manuel admite mesmo não ter sido realojado no decorrer do PER por se encontrar numa situação de contencioso com a Câmara relacionada com a anterior companheira.

Apesar de terem electricidade que pagam à EDP e de disporem de uma instalação para água canalizada, as torneiras não pingam e o casal tem de a ir buscar água à fonte. As paredes de cimento estão repletas de fendas por onde entra vento e chuva e o tecto também não resiste, “chove como se estivéssemos na rua”.

De acordo com a Lusa, “fonte do gabinete da vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara, adiantou que o Plano Director Municipal prevê para aquela zona a elaboração de um Plano de Pormenor” e Jorge Gonçalves, presidente da Junta de Freguesia de Campolide terá avançado que “a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa – EPUL, terá um projecto para ali construir 920 fogos, entre os quais alguns custos controlados e de habitação social”.

Para já, resta à população que ainda habita nestes espaços suportar o frio e as chuvas com que o Inverno as decidir brindar neste século XXI e em plena capital.

M.A.

Atlético Clube de Portugal

QUANDO O SONHO COMANDA A VIDA
Ao lado da ponte 25 de Abril ergue-se o estádio da Tapadinha. Ele é alto e está lá em cima, à vista do Cristo Rei que lhe abre os braços, na outra margem. Em dias de treino conta com a presença da equipa, dos funcionários e de alguns elementos da direcção. Todos eles estão confiantes e são adeptos de um Clube do qual falam como se fosse um filho, mas que tem já idade para ser seu trisavô. As glórias do actual Atlético Clube de Portugal eram já uma realidade em 1942, ano em que o União de Lisboa, de Alcântara se fundiu com o Carcavelinhos, de Santo Amaro. José Sousa, o “dinossauro”, chegou mesmo a fazer parte da multidão que invadia a freguesia de Alcântara para festejar mais um ano na 1ª. Divisão.


Foi num ambiente amigável que o Jornal do Bairro entrevistou o presidente Adjunto da Direcção, José Almeida Antunes contando também com a presença de outros Órgãos Sociais do Clube, José Sousa do Conselho Fiscal e Quintino Varão, vice-presidente.

Há quantos anos é adepto do Atlético?
Sou adepto há cerca de 30 anos e membro da direcção há mais de 20.

Em que ano é que o Atlético foi campeão de Portugal?
O Atlético nunca, mas o Carcavelinhos foi muitas vezes campeão de Portugal.

Recorda-se de assistir às festas nas ruas de Alcântara, com cabeçudos, para festejar a subida do clube à primeira divisão?
José Sousa – Sim, era um Carnaval autêntico! Andávamos todos mascarados, eu com um chapéu ao alto e todo vestido de preto, haviam verbenas de bailes! Cada vez que o Atlético ganhava havia festa!

Sendo o Atlético um Clube com História, pode referir algum episódio interessante que se tenha passado há alguns anos?
Houveram vários, mas vou-lhe contar uma situação que nem é cómica nem é dramática mas é interessante. Num jogo que disputámos não me recordo com quem, o guarda-redes, que era o Carlos Gomes – que foi também um ícone na baliza do Sporting - tinha a polícia à espera dele para o prender. No intervalo, ele conseguiu sair pela porta do cavalo. Quando acabou o jogo, a polícia andava à procura dele e ele já estava longe daqui, penso que fugiu para Marrocos. Isto foi nos anos 50, ele ia ser preso porque tinha um problema qualquer com uma jovem.
Com estas vitórias o Atlético voltou a ser muito “badalado”, mas já há alguns anos que não vigorava nas páginas dos jornais nacionais…
Depois do Atlético sair da 1ª. divisão, as coisas começaram a ser mais pacíficas e menos faladas. Mas quando estava na 1ª. divisão e até com o Porto houveram vários factos importantes, como a disputa para a Taça, em ’46. Os jogos aqui com o Porto, o Benfica ou o Sporting eram sempre grandes jogos e ainda hoje estamos em 11º., 12º. no ranking nacional de presenças na 1ª divisão…

Passados 60 anos dessa luta pela Taça, derrubaram o Porto na própria casa. Ficou muito surpreendido?
Não, nós próprios e com algum atrevimento almoçámos com a direcção do Futebol Clube do Porto e quando tomámos o café dissemos ao senhor Pinto da Costa que iríamos tratar de o depor. O Torreense em tempos derrotou o Porto e numa sequência lógica nós também iríamos ganhar. Havia alguma coisa que nos dizia que podia acontecer e aconteceu!

Acredita que o campeão estivesse desmotivado por causa da Carolina?
Não… isso passa ao lado dos jogadores e da equipa!

Quantos sócios tem o Atlético?
Cerca de 3 mil e muitos simpatizantes. Nós estivemos no Fórum da Sport TV, em Viana do Castelo. Eles deram-nos os parabéns e pediram-nos uma camisola, enviámos a camisola e na mesma semana, para nossa surpresa, lá estava ele a agradecer ao Atlético, “vocês são os maiores”!

Como é que foi a recepção feita aos vencedores, aqui no estádio da Tapadinha?
Na Mealhada foi uma festa diabólica, com leitão da Bairrada e quando viemos para aqui não podíamos chegar lá acima, isto estava cheio, foi uma festa em que muita gente chorava, foi bonito!

Estas vitórias podem contribuir para melhorar a situação financeira do Clube?
Ligeiramente, mas essas coisas são pontuais. Mas já dissemos que se neste momento todos os clubes acabassem, os sócios do Atlético receberiam dividendos, levavam dinheiro para casa! Os outros de certeza que não.

Para além do futebol, também têm equipas de basquetebol e de futsal. O que tem a dizer sobre estas modalidades?
O basquete também tem as suas tradições, tem muita gente, muitas escolas associadas… Há cerca de 2 semanas estivemos em audiência com o senhor Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto e dissemos que é uma revolta que o Governo não nos ajude com este problema da formação. Não é correcto serem os clubes a substituir o Governo na formação de centenas de atletas de cada clube…

Ao longo de um século de história, já por aqui passaram vários campeões. Acredita que o Atlético volte agora a fazer história?
Acreditar acreditamos sempre, mas essas coisas são muito subjectivas. O Atlético tem condições para ter os pés bem assentes na terra, não dar passos maiores do que as pernas e ir tentando chegar mais além. A segunda liga, que é o escalão que se segue não é nada enquanto não tiver duas zonas, zona Norte e zona Sul. Da forma como as coisas se processam, com 4 séries na 2ª. divisão e em que o vencedor de uma série tem de discutir com o vencedor da outra série a oportunidade de subida é muito primária.

Qual seria então a solução?
A solução era que a 2ª. Liga tivesse 4 clubes para poder subir o campeão de cada série. Tudo vamos fazer para mudar as coisas neste panorama negativo do futebol português.

António Pereira
O “MOURINHO DOS POBRES”

António Pereira vai voltar a assistir ao próximo jogo para a Taça sentado na bancada que é destinada ao público. O treinador do Atlético Clube de Portugal encontra-se suspenso por ter declarado para a imprensa que “o futebol é um ninho de chulos”, em referência aos empresários que abandonam os jogadores da modalidade. Apesar de ter apresentado um recurso, o castigo manteve-se mas nem isso impediu que o antigo técnico do Montijo e aí apelidado de “Mourinho dos pobres” visse a sua equipa vencer duas importantes batalhas que farão certamente parte da História do Clube.

Há quantos anos dirige esta equipa?
Há um ano.

O senhor António Pereira assistiu ao jogo nas bancadas do Dragão. Segundo foi divulgado, o castigo foi decidido a 18 de Agosto depois de terem sido publicadas declarações suas em que disse que “O futebol é um ninho de chulos”. Segundo apurámos, não se estava a referir à Federação...
Estava-me a referir ao futebol em geral e os senhores da Federação entenderam que era com eles, mas tenho a consciência tranquila.

Referiu ainda que existem “empresários que deixam os jogadores no Atlético e depois é o clube que os tem de alimentar”. Acredita que depois desta vitória alguns deles se tenham arrependido?
Eu referia-me era a alguns pseudo-empresários dos jogadores que os metem aqui e os abandonam. Nós temos alguma “pena” e tentamos solucionar o problema, quando eles se vão embora e os deixam.

Por mais quanto tempo vai durar esta suspensão?
Por mais um jogo.

Vimos na televisão a dona Nazaré Rodrigues, funcionária nesta casa há vários anos, a esfregar o equipamento dos jogadores e a dizer que as camisolas vieram mais sujas do que o habitual do estádio do Dragão. Os seus jogadores suaram como nunca?
Não, suaram normal. Penso que soam sempre da mesma maneira porque também se batem da mesma maneira em todos os jogos.

O senhor já foi referenciado como o “Mourinho dos pobres”, porquê?
Isso não tem nada a ver comigo, foi uma brincadeira entre amigos onde eu moro e que deriva de eu fazer campeonatos e perder poucos jogos. Talvez me tenham apelidado disso porque o Mourinho também perde poucos jogos, mas não tem nada a ver!

Com que palavras costuma deixar a sua equipa antes do jogo?

Não deixo nenhuma frase especial, falo-lhes normal para todos os jogos como irei falar para o próximo.

AS CORES DA ESPERANÇA

Emoção. O jogo pela Taça de Portugal é sempre intenso, em especial para as equipas da Segunda Divisão B
e da Terceira Divisão que têm assim a oportunidade de jogar contra clubes mais profissionais da SuperLiga e da Liga de Honra. Nestas batalhas, a desforra entre os pequenos e os grandes é acima de tudo uma aprendizagem e uma oportunidade, mas por vezes os miúdos derrubam os graúdos e por sorte ou por saber, a verdade é que a auto-estima do vencedor se eleva a um nível que lhe dá forças para vencer.

“Vencer, vencer, vencer!”

O hino do Atlético Clube de Portugal foi cantado nas televisões e nas rádios nacionais e fez correr muita tinta nos principais jornais de desporto e de informação generalista. O brasileiro David tornou-se célebre por ter derrubado Golias, o Dragão!
No dia 21 de Janeiro, o estádio da Tapadinha encheu-se com cerca de 2000 pessoas, sócios e simpatizantes do Atlético que esperavam ansiosamente ver a equipa ganhar ao Santa Clara. Os jogadores iam preparados para uma missão complicada e António Pereira declarou mesmo ao Jornal do Bairro que não podia prever o futuro mas prometeu “fazer o melhor possível, vamos com certeza trabalhar muito para conseguirmos um resultado satisfatório”. E conseguiram! A equipa açoreana que não era pêra doce acabou por se revelar deliciosa quando, aos 85 minutos, Artur Vicente – antigo jogador do Santa Clara - marcou um penalty que garantiu a vitória.
No próximo dia 10 de Fevereiro, o Atlético volta a ser grande e recebe em casa a equipa Académica de Coimbra. Como se diz no futebol, “prognósticos só no fim do jogo”, mas ainda que nem tudo sejam flores, o Atlético já cumpriu uma grande missão, a de sobreviver aos anos e a muitos abandonos e a de mostrar que vive, que é grande, que existe e continuará a existir ali no alto como uma estrela que por mais que esteja fragilizada ainda pode alumiar a capital!

Força, Atlético!

M.A.

Foto da Quinzena

Subir a Rua Maria Pia revela-se uma autêntica aventura para os automobilistas. Com o piso irregular, buracos no asfalto e até mesmo crateras a solução é reduzir a velocidade. A fundo!

Bem-estar

O RISO FAZ-NOS BEM

Sorrir é sem dúvida um excelente remédio, os benefícios de um senso de humor saudável podem ser percebidos com facilidade.

Um sorriso pode propiciar incríveis resultados porque aumenta o poder de comunicação com os outros e infunde confiança. O sorriso também é motivo para um melhor relacionamento entre as partes, sem contar que faz muito bem à nossa aparência. Há muito tempo que são conhecidos os benefícios mentais e psicológicos de uma atitude positiva e as pesquisas médicas também já confirmam os seus benefícios físicos.
De acordo com diversas pesquisas realizadas, o sorriso relaciona os aumentos dos níveis da substância beta endorfina no organismo e uma melhoria no sistema imunológico. As endorfinas estimuladas pelo riso aumentam a actividade das células guardiãs do corpo e outras actividades imunológicas que resguardam o organismo contra as infecções.
Há também evidências de que as endorfinas ajudam a prevenir e a tratar das doenças crónicas.
Infelizmente, à medida que envelhecemos há uma tendência para sorrirmos cada vez menos. Por exemplo, uma criança sorri em média 400 vezes ao dia, enquanto um adulto sorri apenas cerca de 15 vezes diárias.
Alguém já disse que a tragédia da vida não é a morte, mas o que perece dentro de nós enquanto estamos vivos.
Quando perdemos a capacidade de rir de nós mesmos, dos outros, e dos altos e baixos da vida, alguma coisa dentro de nós se perde.
Os seres humanos são os únicos animais capazes de sorrir, e essa característica especial deveria ser cultivada diariamente.
Um sorriso tem o poder de elevar os espíritos, demonstrar calor e amizade.
Um sorriso abre oportunidades para interagir com os nossos semelhantes, enquanto um semblante carregado dificulta a comunicação.
O sorriso é a linguagem universal que interliga as pessoas.
Sorrir facilita o sucesso no trabalho.
Essa noção está tão difundida hoje em dia que recentemente uma firma colocou um anúncio oferecendo 500 vagas de trabalho para diferentes níveis e viu-se inundada com cerca de 5000 candidatos. Para analisar esta multidão de pessoas, os entrevistadores começaram por eliminar os candidatos que sorriam menos de quatro vezes durante a entrevista, isso valendo para todas as posições oferecidas.
Sorri… pois alguém está a prestar atenção em ti!

Autor desconhecido, 1997

Teresa Ferreira

Correio do Leitor


O eléctrico prepara-se para uma nova viagem. Lá dentro estão contidos os sonhos de uma geração, geração de paisagem que percorre os labirintos de Lisboa como quem caminha nos sonhos, de noite. Esta tarde ameaça findar a qualquer momento: há um suspiro e um olhar para o relógio. O eléctrico parte.

Lá vai pela Saraiva de Carvalho deserta. Os olhares postos nas janelas, como se o mundo lá fora fosse televisão. Aguardas a chegada, mesmo não sabendo muito bem o que isso é, chegar e partir, ver e vencer, jogar e sentir.

Como se a vida fosse só um rodar à chave, pé no acelerador, cuidado com o radar. Como se suspirar fosse só um passar de tempo. Precisas de um cigarro.

A carruagem desce vertiginosamente até à Estrela. Ao fundo, a Basílica olha-te no alto, pedra e cal, o largo e o jardim à esquerda, acenando-te, fazendo-te rebuscar pedaços de memória que julgavas enterrados.

Hoje não.

Hoje desces na mesma paragem de outrora, mas usas um casaco diferente e as tuas mãos estão velhas, marcadas por um tempo que se deixa enferrujar. Olhas para cima porque o céu te dá coragem. E entras no jardim, como quem entra dentro de si próprio. Como quem caminha sobre a palma da sua própria mão.

Decides apagar todos os fragmentos que ainda se encontram espalhados como migalhas no teu livro em branco. Decides olhar para as árvores e para todos os recantos de verde e azul como quem olha para para o futuro. Como se tudo fosse um nascer a cada segundo.

Como se tudo fosse tão simples como dizer, hoje apaguei o passado que faltava. A cabeça não te deixa desanimar, porque coloco todos os sonhos do mundo nas tuas mãos. É a tua responsabilidade, deixares-te perder na cidade que te abençoou a liberdade.

E encontras-me. Naquele banco onde trocámos o primeiro beijo. O primeiro beijo do dia, não o primeiro beijo da eternidade (todos os beijos que me roubas sabem a saudade). Esses primeiros beijos só aparecem nos romances que estão nas prateleiras mais altas do supermercado.

Este nosso beijo é um beijo de cidade amarela, cidade suja de vício e fado. Fado meu, fado nosso, este nosso encontro é uma canção de despedida com uma pergunta no final.

Tantas vezes que pegámos no carro rumo àquele café na Lapa, onde o empregado nos sorria de cumplicidade quando nos sentávamos na mesa do costume e pedíamos o café do costume. Parecia que era sempre a mesma chávena, a mesma luz, o mesmo sorriso, as mesmas conversas de animar, o mesmo fluir.

O mesmo banco de jardim. As mesmas mãos coladas e os mesmos cabelos ao vento.

Os mesmos sonhos, repetidos vezes sem conta, enquanto as tardes se tornavam em noites. E então, era altura de partir.

Percorremos uma cidade inteira até nos encontrarmos, algures entre Santos e a 24 de Julho, mas acabámos sempre por nos perder dentro de nós.

E hoje estamos aqui, no mesmo jardim cúmplice das nossas estórias de encantar. No mesmo jardim de verde que um dia nos disse, baixinho, que tudo seria perfeito se não perguntássemos porquê.

O desafio que o tempo nos colocava era sermos perfeitos, mas a perfeição é desistir do tempo, e nós perdemos sempre a vontade de lutar quando faz frio ou quando encontramos uma porta fechada.

Hoje encontras-me neste banco de jardim a sonhar. Sonho contigo, como sempre. Ao acenderes esse cigarro acendes também a primeira palavra da tarde, a única que quero ouvir:

Contigo.

E então, todos os becos e esquinas de Lisboa, todos os pedaços de calçada e todas as portas de edifícios marcados pelo tempo vão ser testemunhas da nossa ilusão. Todas as noites se transformarão em manhãs e todo o tempo será eterno para caminharmos a cidade que nasce todos os dias com a nossa fúria de viver.

Lisboa nasce, Lisboa põe-se, sem repousar. Olhos abertos aos amantes que se escondem nas sombras, olhar atento à solidão das almas perdidas, braços abertos à Liberdade, que aqui começa, com o nosso abraço.

Hoje poderia ser uma tarde diferente, mas não te apetece. Por mais que as mãos estejam velhas, por mais que os sapatos saibam o caminho a percorrer todos os dias, por mais que me vicie naquele olhar ou naquela forma de tocar, por mais que os dias comecem e acabem contigo, não há nada mais perfeito que tu, Lisboa, minha cidade de saudade.

João Luís