25.5.07

Escola D. João de Castro

Abre à Indústria Electrónica e à Infância

Depois de inúmeros protestos que não impediram o seu fecho, a Escola D. João de Castro, na Freguesia de Alcântara vai reabrir em 2008 para o Ensino Secundário indo também apostar num Centro de Formação Profissional da Indústria Electrónica e num Jardim de Infância.

O planeamento, gestão e execução da intervenção ficará a cargo da Empresa Parque Escolar - EPE, uma entidade pública empresarial que é tutelada pelo Ministério da Educação – ME, e que tem em vista “concretizar um ambicioso programa de modernização das escolas”, no qual irão ser investidos cerca de “mil milhões de euros até 2016”.
Segundo o Ministério, “não se trata, “apenas”, de investir mais dinheiro, mas de investir mais e melhor, de acordo com um planeamento exigente de modernização e conservação, respeitador da evolução dos modelos pedagógicos, da autonomia e responsabilidade das escolas, bem como de princípios da racionalidade económica na gestão futura, duradoura e sustentada, dos edifícios e dos espaços escolares”.
A ex-Escola Secundária com 3º Ciclo D. João de Castro “
pertence ao primeiro grupo de escolas a beneficiarem de obras” e para a qual ficou a promessa de ali ser criado um pólo de Ensino Secundário e Profissional, sendo-lhe “afectado um espaço para funcionamento de Jardim de Infância, preferencialmente o actual edifício oficinal anexo, com duas salas”, avançou o Ministério.
As obras ficam a cargo do Município e “em consonância com o projecto a desenvolver pela EPE”.

Presidente teme segundas intenções

Joaquim Granadeiro, presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, declarou que conheceu os novos projectos através da Comunicação Social, uma surpresa cujas intenções “esperemos que sejam postas ao serviço da população” e que não representem “uma solução para mais tarde a Escola ser privatizada”.
Muitas foram as vozes que se levantaram contra a iniciativa do Governo quando este decidiu o fecho da D. João de Castro, em 2006, uma decisão justificada com o insuficiente número de turmas que ali estavam a funcionar, mas que não fez sentido para as Juntas e Assembleias de Freguesia de Alcântara e Ajuda, para a Câmara e Assembleia Municipais de Lisboa, para o Parlamento e para uma vasta fatia da comunidade escolar e personalidades dos diversos quadrantes políticos nacionais, muitas delas que ali chegaram a estudar.
Na opinião de Joaquim Granadeiro, “o fecho da Escola foi planeado ao longo do tempo”, uma opinião que fez correr rios de tinta nos jornais e que não ficou imune às críticas, afinal “a falta de alunos só existiu porque há 4, 5, 6 anos tomou-se a decisão de não permitir inscrições para novos alunos a partir do 7º ano”, uma razão óbvia para justificar o reduzido número de alunos inscritos.
Os argumentos do Ministério não foram aceites, havendo a suspeita de por trás dos motivos invocados, a questão estar relacionada com interesses imobiliários. A entrada principal da Escola chegou a ser encerrada a cadeado por várias vezes, uma petição com mais de sete mil assinaturas entregue, 397 - número de afectados entre alunos e funcionários - balões oferecidos ao Ministério, uma providência cautelar interposta, chegando-se mesmo a realizar uma vigília aberta a toda a população.
E depois da imensa contestação, fica a dúvida mas também o regozijo para todos os que lutaram para manter abertas as portas de uma Escola com mais de meio século, situada no Alto de Santo Amaro e com vista privilegiada sobre o Tejo, repleta de pátios verdes onde não faltam pássaros, pavões e mesmo esquilos.
“Pensei que a D. João de Castro fosse fechada por questões imobiliárias, mas espero que seja realmente assim… de qualquer forma, continuo a achar que há outras decisões por trás desta intenção e que mais cedo ou mais tarde vá ser vendido”, concluiu o autarca com a justificação de que “aquele é um espaço que vale bastante dinheiro”.

Mónica Almeida

Comércio Justo e Solidário

No Jardim da Estrela

Nos passados dias 11, 12 e 13 de Maio, o Jardim da Estrela foi palco do primeiro Fórum de Comércio Justo feito a nível nacional.
Entre aromas vindos dos 4 cantos do mundo, danças a puxar para o exótico, histórias, sabores e saberes, o Fórum chegou e vingou, dando a conhecer às cerca de três mil pessoas presentes o seu principal objectivo, “saber que o produto que temos nas mãos nos chegou em condições humanas e salário justo”.

Segundo Dénia Claudino, da organização, esta feira “foi o culminar de um projecto de educação intitulado Consumo responsável em Portugal, escolha ética para um futuro sustentável”.
Apesar dos portugueses pouco virem a apostar nestes produtos solidários, a verdade é que os mesmos não são do conhecimento geral da população e se o fossem poderiam ser muitas vezes a melhor opção, afinal “os produtos têm a informação sobre o produtor”, acrescido à garantia de que “foi produzido de forma responsável”, tendo em conta que “os trabalhadores não foram explorados”, situação que contrasta com inúmeros artigos comercializados nas grandes superfícies e que foram resultado de exploração infantil ou cativa. O processo é simples, “os pequenos produtores associam-se em cooperativas ou associações do género” e conseguem assim divulgar e comercializar os seus artigos.
Para além destes factores Dénia Claudino referiu-se ainda às preocupações ambientais que foram tidas em conta, mas sem esquecer “as condições humanas e o salário justo pago aos trabalhadores”.
No certame estiveram presentes dois produtores brasileiros, uma importadora italiana e outra espanhola e ali foram comercializados produtos alimentares,
Artesanato, diversas plantas para chá e uma das associações brasileiras trouxe ainda diversos materiais didácticos, como jogos feitos em madeira.
Encerrado o Fórum e feitas as contas, o evento “foi de encontro às nossas expectativas, as pessoas aderiram” e a tenda que fora montada com o intuito de esclarecer os visitantes foi alvo de diversos curiosos e interessados.
A iniciativa foi coordenada pela Cores do Globo, em parceria com o CIDAC e a Reviravolta, três ONGD - Organizações Não Governamentais de Desenvolvimento, que trabalham a temática do Comércio Justo – CJ, e foi também um encontro de celebração do Dia Mundial do CJ, que se assinala todos os anos no segundo sábado de Maio, como forma de evidenciar alternativas para um futuro sustentável. Quanto a um regresso, “talvez no próximo ano”, avançou Dénia Claudino ao Jornal do Bairro.

M.A.

José Oliveira

O BAILARINO DAS ESTRELAS

Duplo de grandes actores como Marcello Mastroianni, Sean Connery, Jeremy Irons ou Mickey Rooney, José de Oliveira foi dançando por entre estrelas como só um exímio dançarino é capaz.
Com 80 anos, “o Oliveira” continua a percorrer as ruas de Campo de Ourique, um Bairro “que é um luxo” e por onde deseja continuar, com a vitalidade de um jovem que se recusa a parar no Jardim para falar sobre doenças, é que na Parada há muito mais a fazer, “como tomar um banho no lago”!

José de Oliveira ocupou o lugar que as estrelas não conseguiram atingir! Ex-praticante de diversas modalidades como o basquetebol, maquinista naval de profissão, dançou e guerreou junto de inúmeras vedetas de Hollywood e participou em filmes de renome como “A Casa da Rússia”, “A Casa dos Espíritos”, ou “Os Canibais”, de Manuel de Oliveira, o seu realizador preferido. Foi em ’94 que o duplo deu por finda tal carreira, quando se fez passar por Marcello Mastroianni, no filme “Afirma Pereira”.

Como é que a sua vida “dupla” teve início?
Na minha adolescência joguei basquetebol, andebol e futebol, naquele tempo não se arranjava um emprego em desporto nem se ganhava dinheiro para jogar. Eu era novo, andava na Machado Castro e fui jogar basquetebol para a CUF, onde fiz 42 anos de serviço. Na altura, a minha mulher inscreveu-me como figurante e só depois comecei a fazer de duplo. Fui aprendendo técnicas para aplicar enquanto duplo e aprendi a dar mocadas da maneira como uns franceses me ensinaram…
A primeira vez que trabalhei como duplo tinha uns 40 anos, foi no Ginjal, onde contracenei com pessoas da luta livre para simularmos que andávamos à pancada!

Chegou-se a magoar com essas pancadarias?
Aquilo é tudo a brincar, a brincar mas por vezes aleijávamo-nos!

Como se iniciou na arte de duplo dançarino?
O papel mais interessante foi aquele em que tive de dançar com artistas. Assisti a uma cena de dança e disse “isso não é assim” e perguntaram-me se eu sabia dançar e eu fui. A partir desse dia passei a ser duplo dançarino!

Aliás, é bastante conhecido nos Alunos de Apolo…
Sim, desde os 12 anos que danço na Apolo e sou o sócio numero 4! Continuo a ir às matinés e dantes também gostava muito de ir aos bailes promovidos pelo Clube Atlético de Campo de Ourique - CACO, que por várias vezes foi campeão de Hóquei em Patins e de Ciclismo – já ouviu falar sobre o Faísca?!?!?!

Alguma vez foi maltratado por um realizador mais exigente?
Não houve nenhum que me tratasse mal, mas o realizador com quem mais gostei de trabalhar foi o Manuel Oliveira, que é um homem fora de série! Não só é o melhor português como também é dos melhores do mundo! Ele sabe muito mais do que muitos americanos que por aí andam! Ainda agora recebeu um prémio em Cannes e é o realizador mais velho do mundo!

O seu papel no Barco do Amor foi apaixonante?
Eu entrava no Barco do Amor para dançar, porque os actores não sabem… participei nas filmagens que foram feitas em Portugal e em Espanha, no estreito de Gibraltar!

Qual a actriz com quem mais gostou de dançar?
A rapariga com quem mais gostei de dançar foi a Romero uma francesa que dançava muito bem! Normalmente as actrizes precisavam de duplas, as figurantes sim, sabiam dançar muito bem…

E qual o actor mais “rude” com quem contracenou em cenas de pancada?
Não posso dizer rude, mas talvez o Tarzan Taborda, que tinha uma boa figura e que arranjava a rapaziada para esses papéis e dizia, “epá, tu que és bom para a porrada, anda cá”!

Sabemos que também conheceu o barbeiro do Fernando Pessoa. Que memórias lhe foram passadas quanto ao poeta?
Eu conheci foi o filho do barbeiro do Fernando Pessoa, que me contava coisas do pai. O Fernando Pessoa costumava passar pelo barbeiro e seguia para o Chiado, onde ia beber a bica…

Sente alguma nostalgia ao comparar o Campo de Ourique de hoje ao de antigamente?
Não… mas tenho pena, naquela época todas as pessoas se conheciam no Bairro. Andava muita gente por aqui e todos passávamos pela escola da Câmara, naquele tempo havia professores a sério!
Campo de Ourique sempre foi um sítio de luxo, a estreia da RTP foi aqui e o próprio cinema Europa foi utilizado para várias gravações de programas televisivos.
Este Bairro é um shopping autêntico, não falta aqui nada! Tem aqui muito comércio, como ainda tem e de boa qualidade, mais barato do que na Baixa!

E que tipo de aventuras e “traquinices” viveu nestas bandas?
Recordo-me de um episódio que passei no Jardim da Parada. O Jardim era composto por dois lados muito engraçados que até tinham rãs. Nós íamos de um lado para o outro e parávamos ali. Certa vez eram cerca das 2 da manhã e fomos tomar banho para o lago, que na altura tinha uma cascata. Apareceu a polícia e fomos para a esquadra. Mas depois libertaram-nos!

O senhor Oliveira participou em cerca de 60 filmes, é com saudosismo que recorda as salas de cinema que dantes aqui existiam?
Tínhamos o Europa, o Paris e o Jardim Cinema… acho mal empregue!
Havia aqui muita gente, a Aida Baptista, por exemplo, que era animadora do Cinema Paris, que agora foi votado aos ratos…
Tenho pena dessas salas terem fechado, ainda me lembro dos senhores que fumavam lá dentro… agora só temos o Amoreiras!

Considera-se uma pessoa famosa em Campo de Ourique?
Sou uma figura pública, conheço muita gente porque sempre dancei aqui! Vivo em Campo de Ourique desde que nasci e conto ficar por cá.
A minha mulher Lídia de Oliveira também era conhecida, foi uma mulher excepcional e com quem tive dois filhos adoráveis, ele vive na Charneca da Caparica mas já comprou casa aqui no Bairro, ela mora em Carcavelos.

É o sentimento bairrista que traz as gerações mais novas de volta ao Bairro?
Sim, além disso temos aqui tudo, temos imensos autocarros, temos o Amoreiras que é um centro comercial diferente dos outros e que é mais familiar…
A população era e ainda continua a ser bairrista, tem muito carisma! As próprias árvores do Jardim da Parada têm 200 anos!

M.A.

“O meu Bairro e eu”

Só não nasci em Campo de Ourique, porque aqui nunca existiu uma Maternidade, mas o resto da minha vida girou – e gira – à volta desta, para mim, insubstituível zona da cidade: nunca me imaginaria a viver noutro local!...

São escassas as linhas postas à minha disposição para falar de mim e do meu Bairro; só muitas páginas ou mesmo um livro dariam para cumprir tal desígnio. Por isso, vou tentar descrever, a traços largos, os anos de criança, adolescente e jovem adulto, neste Bairro vividos.

Fiz a Instrução Primária numa escola que já não existe, a Escola João de Deus, na esquina da Ferreira Borges com a Coelho da Rocha; brinquei no Jardim da Parada, com o seu lago e cascata, a Biblioteca Municipal, o fotógrafo “à la minute”, os gritos estridentes dos pavões; brinquei na “Quinta”, como chamávamos ao Bairro dos Artistas (Rua Coelho da Rocha, 69), onde laboravam ateliers de mestres escultores (por exemplo, do Leopoldo de Almeida), fábricas de bolos e rebuçados, o Clube Arte e Sport e oficinas de automóveis. Conheci as Terras do Sabido, conhecidas por “Terras do Ti Albano” e pasmei com a existência de um habitante do Bairro, que o percorria montado no seu cavalo, indo tomar a bica ao “Meu Café”, sem desmontar: era o Sr. Falcão.

Como adolescente, descobri os cafés para estudar, conviver, ver televisão. E lá estava “O Meu Café”, cujo dono – o Sr. Alexandre – se orgulhava das sucessivas gerações de estudantes, que por ali passaram, estudaram e se formaram. Também frequentei o “Gigante” (hoje um Banco da R. Ferreira Borges), a “Tentadora”, o “Raiano”, o “Ruacaná”, abertos até às tantas, para terminar a noite no “Canas”. E atrás de mim e dos meus companheiros, iam as longas conversas, as tertúlias, as silenciosas conspirações contra o Regime.

O Cinema Europa, com a porta principal na Almeida e Sousa, acolhia aqueles adolescentes e jovens adultos nas sessões duplas cinematográficas e nos programas de variedades, que incluíam concursos de descoberta de novos talentos artísticos. Aí pelos meus 16, 17 anos participei no concurso “do Céu caiu uma Estrela”, incluído no programa “Clipper Musical”, uma produção de Arlindo Conde. Cantei “Diana”, um hit do cantor canadiano Paul Anka. Foi um sucesso caseiro…

Ainda como jovem adulto (não tão jovem assim…), no tempo da outra senhora, tornei-me um “revolucionário de café”, discutindo acaloradamente Política, sempre desconfiando do parceiro da mesa do lado (poderia ser “bufo”…). Nessa altura, frequentei o pub “Candeeiro”, na Rua Padre Francisco, frente à Igreja de Santo Condestável, onde tive o prazer de conviver com a Natália Correia, Ary dos Santos, Ana Hatherley, Dórdio Guimarães, o actor Carlos Paulo, o “baladeiro” Daniel e “tutti quanti”. A noite terminava com o fado vadio na “Cabana do Viriato”, que hoje é uma Igreja Evangélica, na Rua Saraiva de Carvalho. Foi, também, em Campo de Ourique, com as minhas vinte e poucas primaveras, que iniciei uma curta carreira artística, como vocalista do conjunto (agora diz-se “banda”…) “The Baby Twisters”, que actuou em várias sociedades de recreio lisboetas, como o CACO (Clube Atlético de Campo de Ourique).

Hoje, a vida social do Bairro não se compara com a daqueles tempos: os cafés fecham cedo, tornaram-se snack-bares, lá não se estuda e o ambiente é pouco propício para a leitura, a tertúlia, a conversa, o buliçoso convívio; o Europa está votado a um triste e indigno abandono.

Haveria tanto para acrescentar a esta crónica, mas fazê-lo seria meter o Rossio na Rua da Betesga ou, adaptando a Campo de Ourique, meter o Jardim da Parada no Beco do Fogueteiro!

Fernando J. Almeida

João Magalhães Pereira

“O mercado de droga na Rua Possidónio da Silva é insuportável!”

A Freguesia dos Prazeres conta com um património histórico valiosíssimo, onde palácios, igrejas e jardins se cruzam no quotidiano com as pessoas. Outrora foi residência de reis e o local escolhido para reunião da corte, as marcas e os símbolos do passado sobressaem em cada esquina, fazendo da área um local místico e tradicional que nem os tempos modernos conseguem apagar da memória do passado.
Empenhado e dedicado à causa pública, João Magalhães Pereira, eleito pela primeira vez Presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, fala-nos um pouco da sua experiência neste seu primeiro mandato.

Como é do conhecimento público a Câmara Municipal de Lisboa está mergulhada numa profunda crise. De que forma vê a situação política que a cidade atravessa?
É uma situação atípica e historicamente única. Há circunstâncias que são absolutamente tão extraordinárias como o próprio acontecimento. Pela primeira vez há um número de forças políticas representadas que representam uma certa pulverização da vereação. Por outro lado há forças que agem de forma estranha ao próprio pensamento legislativo, por exemplo há vereadores que se achassem que qualquer decisão não era aceitável ou que não correspondia aos interesses da cidade iam denunciar à Polícia Judiciária como manifesto sinal de que alguns interesses desconhecidos estavam a ser satisfeitos com isso. E isso, segundo tenho conhecimento, acontecia praticamente em todas as reuniões de camarárias. Daí que os poderes Policiais e Judiciais com ondas sucessivas destas tivessem de tomar uma atitude. Por outro lado, quando o Presidente da Câmara tomou posse pediu uma sindicância para ter a certeza que ao ocupar um lugar com altas responsabilidades financeiras teria que sanear a situação anterior. O resultado de tudo isto não pode deixar de ser estranho que a conta gotas, e de uma forma sistemática foi-se intensificando, e de arguido em arguido chegou-se ao arguido final que é o próprio Presidente da Câmara. O pensamento das pessoas evolui e a ética é cada vez maior, mesmo vai mais longe que o sê-lo, vai até ao parecê-lo e portanto chegou ao momento em que o PSD, através do seu Presidente, achou que era uma situação insustentável e que em Lisboa não podia continuar a haver essa suspeição.

Se for eleito um candidato apoiado por uma força política diferente que apoiou o Eng. Carmona, acha que as relações, os projectos e até mesmo o próprio desenvolvimento da Freguesia podem mudar?
Só vou responder pelo que ouço dos meus colegas presidentes de Junta, que a diferença é abissal. Não no sentido de que seja mais prejudicial ou mais utilitária, não é propriamente isso, é a forma de relacionamento. A vereação tende a presumir a lealdade das Juntas de Freguesia que foram eleitas pela mesma força, portanto, quando necessita de politicamente tomar uma opção que seja de preferência relativamente a um ponto específico, preocupa-se menos a fazê-lo porque espera a lealdade. Têm é de ter o cuidado de comunicar. Nesse aspecto aparece um foco de prejuízo. Por outro lado, o acesso a pessoas que conhecemos previamente, da luta e da vida partidária dá uma aproximação que nos permite com mais facilidade as pequenas coisas serem obtidas de uma forma mais prestes. Tem estes dois lados da moeda que de certo modo é útil para a vida da cidade.

Lisboa é caracterizada por uma população um pouco envelhecida e a Freguesia dos Prazeres não foge à regra. Que actividades e projectos é que a Junta tem para os mais idosos?
Aqui, a média de idades é assombrosamente alta, no entanto vários projectos actuais estão a começar a modificar essa tendência. Dantes a Freguesia estava imóvel na sua população e as perspectivas não eram de grande mudança nesse sentido. Hoje em dia não, há construções que se têm feito de novo de grande qualidade arquitectónica, mas de facto começa a assistir-se a uma volta da população para estas zonas. O assunto com as pessoas de idade é importantíssimo. Aqui era necessário haver uma porta a porta em todas as circunstâncias. A CML não tem vocação para transportadora e aquilo que faz, fá-lo com dificuldade. A zona de compras, tirando a zona do “Prior do Crato” embora com um comércio bastante diversificado, mas não o suficiente como seria necessário, principalmente em supermercados e tudo o que seja a pequena compra do dia-a-dia, que no caso da zona de Campo de Ourique há em grande quantidade e qualidade. Era necessário haver um porta-a-porta nesse sentido, até porque a Carris não faz esse serviço porque não tem recursos. É um dos nossos projectos pôr um sistema desses a funcionar.
A Freguesia tem um Centro de Dia que foi criado e gerido pelo Frei Miguel Contreiras e pela acção da Santa Casa, que faz a sua acção social e tem dentro um posto da Cruz Vermelha e que já me informaram que vai eventualmente encerrar, portanto a nossa necessidade absoluta é de ter um Centro de Dia e poder juntar aquelas pessoas todas. O problema da terceira idade e dos idosos nesta freguesia não é tanto a idade, mas sim o abandono e a solidão. As pessoas estão abandonadas nos prédios em 3º, 4º andares e águas furtadas onde estão sós e sem possibilidade de estarem a conviver com pessoas. Portanto o Centro de Dia seria outro dos projectos mais importantes. Há várias entidades a trabalhar perto dos idosos aqui na Freguesia, mas necessitaria de haver uma coordenação maior.

Existem pessoas a viver no limiar da pobreza?
Temos uma coisa extraordinária aqui mesmo ao lado do “Dispensário de Alcântara” que são as Irmãs Missionárias do Espírito Santo e temos na outra ponta o Banco Alimentar Contra a Fome. Essas irmãs fazem a distribuição dos géneros do Banco Alimentar e têm tido nesta Freguesia uma acção determinante. É claro que o poder civil tem de ter uma acção específica nesse sentido e é esse também um dos nosso objectivos, mas as coisas demoram o seu tempo porque a nossa sociedade está muito reduzida.

Quais são os principais problemas que o executivo da Junta tem pela frente na Freguesia?
Não deixa de ser estranho mas deveria ser o que acabámos de falar, o da sociedade cumprir a obrigação que tem para com os idosos, mas o problema principal é o da Rua Possidónio da Silva que tem um núcleo de mercado de droga que é insuportável socialmente. Ao demolir o Casal Ventoso ninguém pensou que a droga acabasse nessa zona. O que aconteceu é que a droga mudou de sítio e desceu. Desceu de uma forma terrível e foi para uma rua onde moram as pessoas mais carenciadas da Freguesia. É ali que tudo funciona como um coito, um santuário e as pessoas têm o produto que nunca ultrapassa a quantidade legal, segundo me informam, e arrancam os passeios todos para esconder a droga por debaixo e eu passo a vida a reparar aqueles passeios. No outro dia estava um candeeiro quase a cair. Aquela comunidade está sob o ataque mais variado, primeiro por causa do tráfico de droga, segundo porque as escolas começam a estar em perigo e a certa altura deixam de ter o número suficiente de alunos e o Ministério fecha escolas sem atender ao que isso faz às famílias e às crianças. A Possidónio da Silva faz a ligação entre a Presidência do Conselho de Ministros e o Ministério dos Negócios Estrangeiros e em certa altura alguns poderes acharam que deveriam imobilizar os carros que se encontravam em cima dos passeios, e então começaram a bloquear a partir de baixo e a pôr imobilizadores e vejam lá que acabaram os imobilizadores mesmo quando começavam os carros dos traficantes! Vou ser politicamente incorrecto mas vou dizer, o problema da toxicodependência não é um crime mas uma doença e tem de ser tratada como uma doença.

Sente que de alguma forma há uma procura por parte dos jovens para virem morar na Freguesia?
Sim, assim acontece de facto, porque neste momento a procura continua a não corresponder com a oferta, mas a oferta continua a aumentar e começa a haver prédios que são arranjados por dentro. A causa porque isto está a acontecer é muito dramática. As rendas estão congeladas, as pessoas estão a morrer e por essa causa os prédios começam a esvaziar-se. Os senhorios conseguem o suficiente através do Recria ou de outras vias arranjar por dentro os espaços deforma a que casais novos se interessem por essa situação. A Praça da Armada é uma das mais bonitas de Lisboa e há um prédio que foi arranjado por dentro e está cheio de casais novos. É uma beleza ver-se as crianças cá em baixo a brincar. Nesta Câmara que agora se dissolveu conseguimos uma coisa extraordinária, que foi fazer um projecto específico para a Possidónio da Silva. A Vereadora Gabriela Seara dizia “…Vamos fazer dali uma Rua da Madalena, mas em que não é só as fachadas.”. É claro se aquilo tudo entrar em obras dificulta o tráfico e isso é mais uma coisa que queríamos fazer.

Por falar em património, um dos edifícios que tem uma enorme relevância histórica e onde a rainha D. Amélia fazia a sua caridade era precisamente no Dispensário de Alcântara. Que futuro está reservado para o Dispensário?
O Dispensário de Alcântara que pertencia ao Ministério da Saúde foi vendido à Sagestamo, que é uma empresa imobiliária do Estado, por cerca de 2,5 milhões de Euros e que o colocou no circuito de comercialização. Portanto o mesmo é dizer que o destino é o pior possível. Ou é a descaracterização ou o desaparecimento. Por mais que os próprios aquisidores o queiram conservar, nunca podem ir muito além da fachada, se não, de nada lhes vale o investimento. Como na zona o sistema dos Lofts teve um grande êxito comercial, temo o pior. Sei que entrou no IPPAR um pedido de mudança de uso para habitação, ora fazer ali habitação não é possível fazer sem descaracterizar completamente tanto o exterior como o interior. O Dispensário está em enorme risco e esta Junta não podia fazer muito contra isso principalmente quando entra no circuito comercial a não ser tentar encontrar entidades que estivessem interessados naquele marco arquitectónico como tal como é. O Ministério dos Negócios Estrangeiros gostaria de fazer do Dispensário uma sala de leitura do arquivo diplomático, sem degradar o interior e exterior. Havia também a possibilidade dos Hospitais Civis de Lisboa fazerem ali o museu da História da Medicina em Portugal. Outra possibilidade era fazer o Museu da Independência e Restauração, algo que não existe em Lisboa. Neste momento o que sabemos é que está em vias de classificação como imóvel de interesse municipal e enquanto estiver assim não se lhe pode mexer nem por dentro nem por fora enquanto a Câmara não disser nada.

Tem-se falado num projecto da Administração do Porto de Lisboa, que consiste em criar um muro com mais de 500 metros de comprimento e cerca de 8 de altura que divide a cidade e o mar, e onde será feito um cais para paquetes de grandes dimensões, que terá hotéis, centros comerciais e zonas de habitação. Que pensa sobre este projecto?
Tenho visto e ouvido muitos projectos da Administração do Porto de Lisboa, qual deles o mais danoso para a cidade. Já vemos muros em Berlim, já vemos muros na capital do Chipre, vemos muros infelizmente a nascer na Palestina e em Israel. Nós vemos muros a separar o México dos EUA e há uma coisa que a gente sabe: Os muros nada resolvem, só complicam. O muro ao mesmo tempo tinha uma vantagem é que mostrava claramente à vista que Lisboa não é gerida de uma forma democrática. É gerida pela CML na sua génese que é completamente democrática e por uma administração que é nomeada por razões que são exclusivas de interesses governamentais, pelas quais não tenho nada, mas de qualquer das formas são entidades que são nomeadas e que se arrogam a definir a cidade sem ouvir os habitantes e é algo que é absolutamente insuportável. Neste projecto da requalificação da Baixa-Chiado vejo a ideia da construção em milhões de euros, com um terminal de cruzeiros em frente a Alfama para pôr lá navios gigantes, onde o horizonte fica tapado por estes monstros flutuantes cuja rentabilidade é igual ao seu tamanho. Temos em Lisboa e nesta Freguesia duas gares marítimas como não há no mundo, a Gare Marítima da Rocha de Conde de Óbidos e a Gare Marítima de Alcântara, que são marcos arquitectónicos da Arte Deco, como não há, inclusivamente com pinturas de um dos nossos e mais extraordinários pintores modernos e estão no meio de contentores com 5 e 6 metros de altura.

Para finalizar esta nossa conversa gostaria de deixar alguma mensagem?
Quando as pessoas elegem alguém para Presidente de uma Junta, fazem-no por razões partidárias, ideológicas, mas também por razões pragmáticas. O que posso dizer é que estou aqui por serviço público e é só isso que pretendo fazer.

Helder Salsinha

Desporto

F.C. Porto – Campeão 2006/2007

Ora ai está o campeão desta época! O F.C. Porto, que liderou quase desde o início a prova, sagrou-se justamente Campeão Nacional da Liga Portuguesa ao bater o D. Aves por esclarecedores 4–1.

Há 70 anos que não se via um campeonato disputado até à última jornada pelos três Clubes maiores de Portugal. Bastou um ponto de diferença para colocar o Sporting na 2ª posição e dois pontos para o Benfica ficar logo atrás, no 3º posto.Mas a festa azul foi feita quase no último minuto, pois durante largo tempo de jogo o Sporting foi virtualmente Campeão Nacional, passando mesmo o período de descanso nessa condição. Mas após o reatar das partidas, o Porto não mais deixou a liderança. Lisandro marcou o 2–1 e devolveu o 1º lugar ao Clube azul e branco, para se confirmar mais tarde com um auto golo de Jorge Ribeiro e outro grande golo de Lisandro. Estava sentenciado o campeonato, mesmo com as vitórias dos clubes rivais de Lisboa.O F.C. Porto revalida assim o título nacional, somando agora 22 campeonatos nacionais!
Parabéns F.C.Porto!

L.P.

Desporto

JUDO

Taça do Mundo de Lisboa
Telma Monteiro medalha de ouro!

Telma Monteiro foi a grande vitoriosa da Taça do Mundo Feminina de Lisboa ‘07, realizada nos passados dias 19 e 20 de Maio no Pavilhão da Luz.
A atleta conseguiu a medalha de ouro na categoria de –52 kg, onde bateu a russa Olga Fedoseenko, por ippon, a holandesa Shareen Richardson e a alemã Mareen Kraeh, por wazari. Na ronda seguinte, já nas meias finais defrontou a atleta francesa Marine Richard batendo-a por ippon, para na final derrotar a alemã Romy Tarangul também por ippon.
A diversos quilómetros (luz), também o português Pedro Dias alcançou um excelente resultado ao conquistar a medalha de bronze na categoria -66kg, na Taça do Mundo Masculina de Bucareste. De realçar o desempenho de João Cardoso, na categoria -60Kg, que obteve um honroso 7º lugar, com três vitórias em cinco combates.
Motivos não faltam para dizer que os judocas nacionais andam aí para as curvas!

L.P.

Desporto

AINDA OS CAMPEÕES...

A notícia de primeira página da 8ª edição do Jornal do Bairro, referente ao Clube Atlético de Campo de Ourique – CACO, foi aplaudida por diversos leitores que agradeceram o apoio prestado a este Clube quase centenário.

Ainda assim, ficou o pedido para que fossem divulgados os nomes dos Campeões da 3ª Divisão de hóquei em patins, os verdadeiros “obreiros” da vitória. Conforme sugerido por Rui Subtil, treinador da equipa, segue um forte cumprimento aos atletas da Época 2006/2007, nomeadamente:
Aos guarda-redes Rui Carvalho, Pedro Santana e Tiago Martins, aos defesa-médios Álvaro Ferreira, Filipe Santos, João Sanches, Pedro Ramos, Mário Silva e Nelson Coelho e aos avançados Nuno Capela, Luís Paixão, André Sousa, Filipe Ferrão e Pedro Pinheiro.
Nesta Época, o CACO participou em 22 jogos, contou com 19 vitórias, 1 empate e apenas 2 derrotas, tendo marcado 174 golos e sofrido 53.
Recorde-se que os 6 melhores marcadores no ranking dos 40 foram André (53 golos), Paixão (29), Filipe Santos (25), Capela (18), Álvaro (15) e Ferrão (15).
E em momento de glórias, será justo referir ainda o nome dos dirigentes que em muito apoiaram o CACO a sagrar-se campeão, são eles o presidente Alípio Capela, o treinador Rui Subtil, os seccionistas Nelson Pires, Rui Silva, Vitor Belguinha e Adelio Silva, mecânico de patins!

L.P.

Bem-estar

Educação Positiva…

“Educar é a arte de revelar, cultivar e desenvolver identidade e beleza”

CADA CRIANÇA É UMA FLOR ÚNICA

Assim como as flores que compõem um jardim têm diferentes formas, fragrâncias e cores e nisso está a sua variedade e beleza, da mesma maneira, cada criança, cada ser humano, é uma flor única e especial. A beleza de um não deprecia o valor do outro; esta é a visão do educador que percebe a especialidade de cada “flor”.
Deve haver o cuidado de nunca comparar personalidades, trabalhos e maneiras diferentes de apreender o mundo.
A expectativa de um comportamento padrão e uniforme muitas vezes afasta a possibilidade de reencaminhar crianças que apresentem desvios de comportamento, fazendo com que percam a esperança em si mesmas, pois foram ressaltadas as suas fraquezas.
O professor que deseja renovar a forma de ver os seus alunos deve, em primeiro lugar, trabalhar consigo a percepção do seu próprio valor. Todo o ser humano é bom, perfeito e virtuoso em essência.
A origem etimológica da palavra "educar" é colocar para fora. Pôr para fora, nada mais é do que o exercício do despertar das qualidades, valores originais do ser, bem como a criação do ambiente propício para o seu desenvolvimento.
Se partirmos do pressuposto de que a criança não tem paciência, boas maneiras, organização, etc., e que cabe ao educador criar estas qualidades nela, o trabalho será extremamente estafante para ambos, porque a premissa inicial é negativa. Mas, se em vez disto, a criança é vista como um ser rico internamente, que possui em si todas as qualidades mais belas, como amor, paz, harmonia, etc., só caberá ao educador despertar essas qualidades, através de uma estimulação constante, com confiança no que há de melhor nela. Esta percepção, que parte de um princípio positivo, gerará nova energia fluindo do professor para o aluno numa relação de respeito, amor e cumplicidade.
Por exemplo, jamais se deve afirmar algo negativo que a crian­ça expresse como a sua verdade: - “Tu és teimoso! Tu és desastrado!” Mas, ao contrário, questionar com ela "Onde está o amor que existe dentro de ti? “Ou - "Onde está a tua paz?”
Neste momento a criança buscará o seu melhor e isto a auxiliará na construção da sua auto-estima.
O amor é a principal fórmula facilitadora do processo educativo e sem uma visão positiva é impossível deixar fluir este sentimento.
Sempre que houver tempo, deveria ser dada atenção especial a cada criança, individualmente. Se não há proximidade pessoal, o laço afectivo é fraco e sem afectividade a criança não responde bem às propostas. Na sala de aula, uma palavra, um gesto de atenção e preocupação do professor com o bem-estar do aluno, são muito eficientes.

REALÇAR O CORRECTO

Ao focalizar as negatividades, repetidamente, as aulas tornam-se comuns e cansativas. Falar muito sobre algo negativo, mesmo que para corrigir, acaba por ter um efeito de reforço. Por exemplo: quando uma criança faz algo errado, em vez de se dirigir a ela publicamente, evidenciando o seu erro, dirija-se a outra que esteja certa e chame a atenção do grupo para ela. Geralmente o objectivo da travessura é chamar a atenção para si. Isto não significa que o professor deva ficar omisso em relação ao erro. Um outro método é dar destaque, não ao erro, mas sim a algo positivo da sua personalidade, desvalori­zando a transgressão.
Alguns actos correctivos e conversas particulares são muito benéficos, desde que o professor consiga manter-se emocionalmente distanciado e sem irritabilidade. Quando algum aviso ou crítica são feitos em tom acusatório, a criança torna-se muito resistente.
Deve ficar claro para professor e aluno que o mau são as negatividades e não as pessoas. É importante que a criança se sinta amada no momento da correcção; isto ajudá-la-á também a libertar-se dos seus erros.
Ao compartilhar situações de correcção com a turma, todos compreenderão que o acto correctivo não objectiva gerar sofrimento, mas, ao contrário, é um auxílio para eles próprios se libertarem daquilo que os angustia, e assim sejam mais felizes.
A criança geralmente é subestimada em excesso, no que diz respeito à sua compreensão intelectual. A partir de uma certa idade, a criança pode e deve avaliar conscientemente os seus actos e corrigi-los, se for encaminhada para isto. Esta prática de auto-avaliação permitirá, inclusive, que a criança perceba o seu desempenho nas actividades escolares, tornando-se assim, mais participativa no processo da aprendizagem.

ESPERTEZA É SER BOM

Hoje em dia o "mal" está mais na moda do que o "bem".
Algumas crianças fazem dos personagens maus os seus ídolos, porque eles parecem mais excitantes e espertos. A criança hoje não é atraída pelo bonzinho e tolo.
O professor deveria, portanto, mostrar que sabe da existência do mal, até mais do que os alunos, mas que optou consciente e inteligentemente pelo bem. Abordar as negatividades sem medo e desmistificá-las será de grande ajuda para eles.
Crianças com um intelecto mais activo não aceitam valores que lhes sejam impostos, sem um sentido lógico. Torna-se mais convincente para elas mostrar os efeitos das acções negativas que surgem no seu quotidiano.
A criança deve concluir e interiorizar por si mesma que a verdadeira esperteza é ser bom, pois isto é o que traz felicidade. E também, que ser pacífico não é ser passivo, ao contrário, é ser activo na criação de um mundo diferente.

AMOR E LEI UM EQUILÍBRIO NECESSÁRIO

Aquele que tem amor está naturalmente disposto a fazer o que é melhor para si e para os outros. Há nele uma generosidade natural. Todas as acções em pensamentos, palavras ou actos são motivadas por gentileza. Aquele que tem amor é naturalmente um doador e por isso recebe bons votos dos outros. Ser gentil e simpático com os outros traz gentileza e simpatia em retorno.
Quando o professor dá amor suficiente aos seus alunos, instala-se uma relação de confiança na sala; com isso, não é necessário muito empenho para corrigir os erros. É fundamental que o professor mostre também um olhar firme quando for necessário dar uma repreensão; isto não é falta de amor. Pelo contrário, a criança precisa de receber um limite do adulto e ela, inclusive, torna-se insegura se não o recebe. Quando a relação do professor com o aluno é realmente amorosa, só a ausência de um olhar afectuoso já é suficiente para corrigir a criança. Amor e lei jamais podem separar-se na arte de educar.

PAZ – A PRIMEIRA LIÇÃO

Observando a excitabilidade das crianças hoje em dia, será que é possível criar uma sala de aula realmente pacífica? Para criar um ambiente pacífico com os nossos alunos devemos antes de mais nada cultivar em nós mesmos este valor. Não adianta pedir-lhes algo que não estamos a oferecer. A transformação das atitudes excitadas das crianças vai acontecendo de forma natural e gradual à medida que elas ganham autoconfiança, se sentem seguras e amadas.
Primeiramente, nós professores, precisamos estar preparados e preparar os nossos alunos com uma atitude mental positiva e pacífica, antes das actividades, de forma que elas possam transcorrer com facilidade.
Para sermos pacíficos, precisamos entender que é necessário "casar-se" com bons pensamentos, bons sentimentos, boas palavras e boas acções. Ter uma visão de bondade na vida, incluindo um estilo de vida feliz, automaticamente gerará sentimentos pacíficos. A paz global começa comigo. Quando posso ser pacífico, posso partilhar esta paz com a pessoa ao lado. Quando a minha atitude em direcção a todos os seres vivos é pacífica, ou seja, eu não tenho intenção alguma de tirar vantagem ou explorar os outros, então eu estou criar paz. Tolerância tam­bém é essencial para a construção da paz.
Através de tolerar as ideias de outras pessoas, vendo o valor das diferentes perspectivas, nós não nos ocuparemos na guerra dos intelectos, ideias e crenças.

UNIÃO - UMA VISÃO DO TODO

Para haver união entre os membros de um grupo, é necessário primeiro que haja harmonia interna em cada um deles. É necessário, também, apreciação verdadeira de cada membro para com todos e isto só pode acontecer a partir de uma visão positiva. O que cria desarmonia é a necessidade de sobrepor-se ao outro, através da sua especialidade, inteligência ou poder de liderança. Personalidades preenchidas de ego não podem viver em unidade. Para haver unidade é necessária uma relação estreita e plena consigo mesmo, que assegure autoconfiança e neutralize a necessidade de se destacar no grupo, para compensar alguma lacuna. Por outro lado é importante exercitar ver o todo, antes de ver o benefício pessoal entendendo que na preservação do bem-estar do grupo, haverá naturalmente um retomo para o eu. É não criticar, não boicotar as ideias dos outros, mas pelo contrário, dispor-se a contribuir. A união tem uma ligação estreita com a cooperação. União é não aceitar que um aluno venha criticar outro, quebrando a relação de confiança. O professor é o instrumento responsável por manter a sua turma unida, criando sempre elos entre todos. O exercício constante da valorização de cada aluno individualmente, satisfará a sua necessidade de se auto-afirmar e com isto será mais fácil diluir os egos. As crianças gostam de pertencer a grupos, mas às vezes fecham-se nos seus pequenos círculos e excluem outros, neste caso, o professor deveria criar na turma o sentimento de uma grande família.

PROFESSOR: UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO

O melhor ensinamento é o exemplo. As palavras perdem-se no ar porque são abstractas, mas os registos das acções ficam impressos na consciência e certamente serão reproduzidos pelas crianças em algum momento.
O professor deveria estar atento para não fazer nada que não possa ser reproduzido pelo aluno. Evitar falar alto para pedir silêncio, por exemplo. A busca de uma coerência interna e externa, entre o discurso e a prática é fundamental, para a implementação de valores autênticos.

Teresa Ferreira

Automóveis

Toyota Auris 1.4 VVTI Sol
Um digno sucessor

Ao fim de mais de quatro décadas de existência, o Toyota Corolla abandonou a carroçaria hatchback em três e cinco portas, tendo passado a pasta ao novo Auris, no mês passado. A versão 1.4 VVTi Sol que conduzimos convenceu-nos e podemos dizer que estamos perante um digno sucessor.

Num mercado cada vez mais concorrido, onde o esmagar das margens de lucro é cada vez mais usual, o novo Toyota Auris 1.4 VVTI Sol, de cinco portas, apresenta-se com um preço aliciante: 23.320 euros. A justificação de tal afirmação reside no facto das diferentes componentes do produto (a unidade motriz e o nível de equipamento, por exemplo), se revelarem à altura do montante por ele pedido.
A habitabilidade é generosa, mesmo com cinco adultos a bordo e quando comparada com os restantes contendores do segmento C e o design interior moderno e arrojado é uma das mais-valias deste estreante Auris. O painel de instrumentos, a consola central e os funcionais comandos dos diferentes equipamentos, são alguns dos pontos altos e cativantes que contribuem para a Aura vanguardista deste Toyota.
O conforto de rolamento é assegurado por uma suspensão bem calibrada, embora em cidade e a exemplo de tantas outras propostas do mercado, não consiga diluir algumas das agressões do piso.
Aqui impõe-se um parêntesis. O conforto em cidade tem sido referido em todos os ensaios do Jornal do Bairro, mas não deve ser encarado como um factor primordial de avaliação para a qualidade de um automóvel. O maior ou menor conforto nos pisos lisboetas depende, hoje em dia, do estado de conservação dos pisos. Portanto, não existem milagres e mesmo alguns carros topo de gama não escapam a uma note menos boa, a qual apenas é da responsabilidade da CML.
O comportamento do novo Auris é de bom nível, já que a boa resposta do motor de 97 CV, aliada ao bom casamento entre chassis e suspensão, permitem bons ritmos nos trajectos mais retorcidos. Isso além de viagens confortáveis e lestas em auto-estrada.
Fácil de estacionar, o nosso Auris dispunha do nível de equipamento Sol, pelo que poucos são os itens em falta. Sente-se a ausência do cruise (muito útil nos dias de hoje), ou dos estofos em pele como opção, por exemplo.

Ficha Técnica

Cilindrada (cc) 1398
Potência máx. (CV/rpm) 97/6000
Binário máx. (N.m/rpm) 130/4400
Emissões CO2 (g/km) 163
Velocidade máx. (km/h) 170
Aceleração 0/100 km/h (seg.) 13,0
Consumo misto (l/100 km) 6,9
Preço versão (€)
23.230

Túlio Gonçalves

Automóveis

Chevrolet Epica 2.0 VCDi LT
Uma opção racional

Com o Chevrolet Epica a marca americano-coreana disponibiliza no mercado um automóvel de grande estilo, não estético mas também dinâmico. Habitabilidade e equipamento generosos, um motor honesto e um bom nível de conforto, são apenas algumas das suas características.

Longe vai o tempo, em que os padrões de qualidade e de construção dos automóveis de origem coreana revelavam um grande fosso face às propostas europeias e americanas.
O Chevrolet Epica 2.0 VCDi LT é um bom exemplo dessa clara evolução que, curiosamente, não significou a perda de uma certa aura asiática. Isso mesmo podemos sentir ao entramos no habitáculo desta proposta. Os materiais e a sua montagem mostram uma incontornável qualidade, ao nível de muitas marcas de referência, sendo que a ambiência é agradável e acolhedora.
Do completo leque de equipamento de série que equipava a nossa unidade, o único opcional era a pintura metalizada (270 euros). Destaquem-se assim os faróis de nevoeiro, retrovisores reguláveis e rebatíveis electricamente, volante em couro ajustável em altura e profundidade com comandos de rádio e programador de velocidade, bancos em couro com regulação do apoio lombar (o do condutor é ainda ajustável electricamente), computador de bordo, sensores de parqueamento, sensor de chuva, quatro vidros eléctricos automáticos, ar condicionado automático, etc.
Quanto à segurança, realce para os seis airbags, o ABS com EBD e controlo de tracção electrónico (TCS), a título de exemplo.
O novo motor turbocomprimido 2.0 VCDi é suave, progressivo na entrega e económico. Todavia, em cidade a resposta da nossa unidade em baixos regimes mostrou algumas hesitações.
Não obstante, em estrada livre é muito agradável de explorar, o que aliado ao bom equilíbrio do binómio chassis/suspensão possibilita uma utilização descontraída, sem esquecer mesmo bons momentos de condução mais apimentada. Isso apesar de ser uma assumidíssima berlina familiar, o que aliás se pode depreender da grande volumetria do habitáculo.
O preço do Chevrolet Épica 2.0 VCDi LT é um dos seus grandes argumentos, tendo em conta o nível de equipamento e as suas qualidade gerais.

Ficha Técnica
Cilindrada (cc)
1991
Potência máx. (CV/rpm) 150/4000
Binário máx. (N.m/rpm) 320/2000
Emissões CO2 (g/km) 169
Velocidade máx. (km/h) 200
Aceleração 0/100 km/h (seg. 9,7
Consumo misto (l/100 km) 6,1
Preço versão (€) 33.650

T.G.