26.4.07

Há 50 anos, no Jardim da Estrela

Há um não tanto longínquo meio século, o Jardim da Estrela passou a ser o local preferido da minha adolescência, como jovem estudante do então Liceu de Pedro Nunes, durante a década de 50 do século passado. A esplanada do Jardim era o poiso de dezenas de irreverentes e barulhentos teenagers, provenientes das Escolas circundantes – Pedro Nunes, Machado de Castro, Josefa de Óbidos (feminina, esta última).
Na esplanada havia uma juke-box que debitava o Rock n’ Roll dos anos 50, com os respectivos decibéis a troco das moedas de um escudo, depositadas na ranhura-mealheiro. Não me atrevo a citar a playlist (como se diz agora…) das canções existentes na máquina, reproduzidas, primeiramente, em discos de 78 rotações por minuto e depois em EP’s, uns discos pequenos de 45 rotações com quatro gravações: é que seria uma lista quase interminável de ídolos da juventude de então. Só publicito o meu grande ídolo, “The King”, o eterno Elvis Presley, seguido por um imenso cortejo de grandes vozes do pop-rock.
Na segunda metade da década de 50, o Rock n’ Roll havia vencido todas as resistências do (mais tarde) chamado nacional-cançonetismo, tanto doméstico como lá de fora…
Foi por isso que, quando a Feira Popular se mudou da Palhavã (actual Gulbenkian) para o Jardim da Estrela, se privilegiou a apresentação de rockeiros amadores, entre os quais se contava o autor destas linhas. Num palanque, colocado no meio do lago junto à esplanada, actuavam uns improvisados dançarinos, um dos quais coxo, que exibiam uma fulgurante coreografia, que tornaria célebre “Os Alunos de Apolo”. Numa bela noite, o coxo caiu, acidentalmente, no lago, perante o gáudio da assistência. A partir de então, o mergulho tornou-se diário (e de propósito…) e parte integrante do espectáculo. Noutros dias palanques, actuavam imitadores de Pat Boone, Bill Haley, Little Richard e do Elvis (deste último, o imitador era eu próprio…).
Para não afastar os mais tradicionalistas, havia o palco do fado, outro do folclore e outro dos então considerados “províncias ultramarinas” (colónias, como devem saber…). Foi aí que se estreou o trio, mais tarde duo “Ouro Negro”, em palcos da chamada “metrópole”.
Como em qualquer outra Feira Popular existiam as “barracas” de petiscos, artesanato, pim-pam-pum, tininhos e demais divertimentos.
A Feira da Estrela funcionou nos anos de 1958 e 1959, sob a batuta de Leitão de Barros, um enorme talento que se repartiu em cineasta, jornalista, pintor, professor, autor teatral e um apaixonado olisipógrafo. Este multifacetado intelectual foi o grande organizador dos Cortejos Históricos, da Exposição do Mundo Português (1940), o realizador de, entre outros, o primeiro filme sonoro português – “A Severa”, 1931 – e ganhador de diversos prémios internacionais. Nasceu em 1896, morreu em 1967.
Muito mais haveria a dizer, mas a crónica já vai longa. Prometo voltar ao assunto…

Fernando J. Almeida

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