5.7.07

Ricardo Falcato

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

À semelhança da sua antecessora Livraria Barata, também a Bulhosa tem vindo a dinamizar um conjunto de iniciativas que têm em vista animar e entreter as crianças em Campo de Ourique.

Ao longo dos seus dois meses de funcionamento e para além dos eventos “Conta-me Histórias”, a Livraria tem chamado a si alunos de estabelecimentos de ensino locais que, através de marcação prévia, aproveitam o final da manhã para ouvir narrativas de encantar.
Ricardo Falcato
reconhece o poder da imaginação infantil e é com alegria que afirmou ao Jornal do Bairro que, várias vezes, “quando as crianças passam na loja e me vêem no balcão, largam os pais e atiram-se para o meu colo a pedir que lhes dê um livro ou lhes conte uma história”.
Só por isso deve valer bem a pena cada conto de encantar…

Há quanto tempo é que se dedica à ternurenta missão de contar histórias às crianças?
Na verdade comecei num dia chave, 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Curiosamente, nesse dia tive um infantário presente e foi uma tarde muito animada, tanto para a loja como para as crianças. Dediquei-me a contar histórias quando vim trabalhar para a Livraria Bulhosa. Se bem que o meu primeiro emprego foi num infantário e durante oito anos dei catequese, mas sempre gostei de contar histórias a crianças!

Ao longo da semana, quantos miúdos passam por aqui?
Nas últimas semanas, somando as escolas e infantários que passam pela nossa loja, temos tido entre 60 a cem crianças a frequentar o nosso espaço.

As iniciativas promovidas nos dias úteis destinam-se apenas a escolas?
Como sabe, Campo de Ourique é um Bairro familiar e ainda há muito o costume do “passa palavra”. Após a primeira iniciativa que tivemos com o infantário Dom João II, já passaram por cá a Escola E.B.1 Santo Condestável e na passada semana promovemos três sessões de leitura para o Jardim Infantil Santo Condestável.
Sendo que as escolas contactam entre si, as actividades promovidas durante a semana são agendadas com marcação prévia. Todavia, é uma iniciativa que está aberta a todas as crianças e a todos os adultos que nos queiram visitar.
Queremos fazer da nossa loja, à semelhança do comércio tradicional, não só um espaço para ganhar dinheiro, mas sobretudo um espaço onde circule a Cultura quer seja nas actividades para crianças, no Clube de Leitores, no Música na Bulhosa, entre outras actividades que esperamos vir a desenvolver. Julgo que as livrarias são um espaço de divulgação cultural, embora nos dias de hoje isso esteja um pouco esquecido...

Qual foi o livro que mais emocionou os seus ouvintes?
Foi sem dúvida alguma “O Nabo Gigante”, do Alexis Tolstoi. É uma história bastante engraçada, que se transforma em lenga–lenga e que permite uma interacção fantástica com as crianças.

Tem alguma história engraçada para nos revelar?
Que se tenha passado comigo e com as crianças? Sim. Com muita frequência quando as crianças passam na loja com os pais e me vêem no balcão, largam os pais e atiram-se para o meu colo a pedir que lhes dê um livro ou lhes conte uma história. Julgo que, e segundo os comentários de alguns professores, a minha imagem, na cabeça deles, está associada aos livros e às histórias.

Que género de perguntas é que um simples conto pode suscitar?
Na escolha das histórias temos de ter um certo cuidado. Como deve calcular, as crianças têm uma imaginação infinita. Os contos suscitam muitas vezes perguntas acerca da sua própria conduta, pois todos eles têm uma moral, que passa ou não de forma subliminar. Recordo-me de ter contado “Gabriela e a espreitadela” e das crianças me perguntarem se deviam ou não ser curiosas e quais os problemas que daí poderiam advir. E, mais curioso ainda, estou a falar de crianças entre os 3 e os 6 anos.

Para além do entretenimento, que outras funções é que têm estas iniciativas?
Para além do entretenimento que suscitam os contos nas crianças, o principal objectivo destas iniciativas é despertar nelas o gosto para a leitura. Logo desde cedo. Posso dizer-lhe que tenho um menino, que nos visita todas as semanas com apenas dois anos que não se mexe do lugar enquanto não acabo de contar a história.

Sente um nervoso miudinho antes de cada sessão?
Confesso que sim. Mas é um nervoso que desaparece logo que começo a contar a história e a interagir com as crianças.

E qual é a sensação com que fica quando as crianças se retiram?
Fico triste por se irem embora e ao mesmo tempo a sensação de dever cumprido, pois saem sempre com um sorriso nos lábios e com a promessa de voltar. Isso é muito gratificante para quem desenvolve este tipo de trabalho.

M.A.

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