19.7.07

Chafariz da Fonte Santa

UMA LENDA ABANDONADA

Invisível, seco e votado ao abandono! Eis o estado actual do Chafariz da Fonte Santa, um local que chegou a ser poiso de inúmeros fiéis que ali procuravam o rejuvenescer das águas, reconhecidas pelas suas qualidades medicinais.

A denúncia partiu de João Magalhães Pereira, presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, que chegou a estabelecer contacto com diversos vereadores da Câmara Municipal responsáveis pela manutenção do Ambiente e Espaços Verdes, incluindo António Prôa, tendo em vista a reabilitação do Chafariz.
A situação demissionária que entretanto arrasou o executivo de Lisboa atrasou esta e outras questões relacionadas com a gestão dos equipamentos da Capital, o que poderá ser um mau augúrio para os lisboetas mais sequiosos: a água não deverá jorrar das fontes por ora secas, pelo menos este Verão!
Segundo Magalhães Pereira, as responsabilidades da Fonte Santa deveriam ser atribuídas à Empresa Portuguesa de Águas Livres – EPAL, “que diz que até à torneira a responsabilidade é deles”, explicou o presidente.
Contactada pelo Jornal do Bairro, fonte do gabinete de Imagem e Comunicação da EPAL avançou que “não temos chafarizes a nosso cargo”, remetendo responsabilidades para a CML.
Apesar do empurrar de responsabilidades, o Chafariz da Fonte Santa consta no Inventário Municipal do Património, não sendo de descurar a sua importância a partir do século XVI, altura em que ali foi avistada Nossa Senhora.

Cruz centenária levou sumiço!

Um pouco abaixo do Cemitério dos Prazeres passa a extensa Rua de Possidónio da Silva e é aí que se ergue o Chafariz da Fonte Santa. Num dos extremos da artéria, bem em frente à Escola Secundária Josefa de Óbidos, uma invulgar estrutura em forma de quilha e de tom avermelhado anuncia a presença de umas escadas que acedem à Possidónio. Nas traseiras das escadas, a parede do Chafariz serve de mural para “graffities” rabiscados e de parque de estacionamento.Quem sobe vê à sua frente uma espécie de tanque, seco e munido de uma degradada nau esculpida. Nada mais!
Foi-se a cruz que coroava e denunciava a – ainda que remota – Fonte e respectiva reconstrução, datada de 1735.
O presidente da Junta dos Prazeres não consegue definir o momento em que o Chafariz enxugou, “há anos que está seca”, nem a altura do desaparecimento da cruz, “as versões divergem”, declarou. Motivos para tal sumiço são quase óbvios, “só se pode entender que é vandalismo”, arriscou.
Para além do desaparecimento da cruz, as reclamações dos residentes naquela área vão-se multiplicando, “cada vez que ali vou há sempre alguém que se queixa de qualquer coisa que lá estava e deixou de estar”, denunciou Magalhães Pereira. “Ao lado da escadaria havia um chafariz frade que tinha uma torneira que também desapareceu”, foi o exemplo.
A Fonte Santa foi desenhada por Roque Gameiro e está ligada à acção de caridade vicentina de alguns devotos que preparavam e distribuíam refeições aos pobres e presos da zona.

O nome do lendário Chafariz deriva das propriedades milagrosas que eram atribuídas às suas águas, de qualidades medicinais. Ao contrário das restantes bicas de Lisboa, esta confluência não provinha do fornecimento da EPAL nem do Aqueduto das Águas Livres, continha sim água própria, resultante de uma fonte de absorção “com um lençol freático de qualquer tipo”, cujas águas se acumulavam no cimo e aqueciam, volvendo à Fonte ainda quentes, “daí as suas propriedades ditas terapêuticas”.

M.A.

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