8.6.07

I Trienal de Arquitectura

TABULEIRO DA PONTE TORNADO GALERIA

Uma estrutura espacial sob o tabuleiro da Ponte 25 de Abril, a edificação de uma sala de chuto em frente à Assembleia da República ou uma piscina pública na Rua da Bela Vista à Lapa são apenas três dos quinze projectos seleccionados no âmbito do concurso “Vamos Fazer Cidade”, integrados na primeira Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa.

Foi no passado dia 31 de Maio que a Capital recebeu a primeira edição da Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa, uma iniciativa que vai decorrer até 31 de Julho e que este ano se propõe a discutir os Vazios Urbanos existentes nas principais cidades do país.
De acordo com os especialistas, estes Vazios têm vindo a ser debatidos e devem ser identificados e resolvidos, até porque representam “um problema que permanece sem solução ou se agrava com o tempo”. Segundo os técnicos, cerca de 40 mil exemplos residem entre os alfacinhas sendo os mais óbvios o Parque Mayer, a Feira Popular ou os vales de Alcântara e de Chelas.

Álvaro Siza Vieira é a grande estrela da Trienal, que utilizou o Museu da Electricidade para ali realizar a maior exposição de sempre sobre o arquitecto português. Para além de Siza Vieira, destacam-se ainda um baralho de exposições, com especial destaque para a mostra intitulada "Portugal" e que irá representar o país na Bienal de São Paulo 2007. Conferências, debates, workshops e concertos são apenas mais algumas das iniciativas propostas.

Propostas para animar os Bairros

De forma a incentivar “a reflexão sobre espaços distintos da cidade e formas alternativas de olhar os seus territórios de abandono ou de conflito”, o semanário Expresso aliou-se ao certame levando a cabo o concurso “Vamos Fazer Cidade”, “uma oportunidade para conhecer e debater os trabalhos dos participantes que, com originalidade e irreverência” arquitectaram novos projectos para ocupar Lisboa, Porto, Aveiro, Guimarães ou Évora.
Uma piscina pública num lote vazio existente na Rua da Bela Vista à Lapa foi o plano concebido por Pedro Barata Castro e Pedro Ribeiro. “Por piscina pública entendemos algo definido num cruzamento entre os conceitos de piscina municipal, equipamento desportivo de utilização livre, tipo campo de futebol público”, avançaram os argonautas da ideia, sendo que a infra-estrutura deveria incluir “as condições de qualidade de uma piscina mundial” com balneários e segurança, “permitir uma utilização sem controlo de acesso desde que não esteja lotada” e “poder ser encerrada durante a noite mantendo a sua presença na cidade, como um jardim urbano”.
O comprimento da piscina seria de 50 metros.
“Tecto Habitado” foi a ideia projectada por Paulo Miguel de Melo, Maria João Correia e Luís Maria Baptista e que sugere a construção de uma plataforma debaixo da Ponte 25 de Abril. Esse espaço daria lugar a uma galeria de arte com células de produção artística individual de carácter temporário, a uma praça coberta para utilizar em exposições e eventos colectivos, residência para artistas e ainda uma cafetaria suspensa entre os pilares da Ponte, com vista panorâmica sobre o Rio Tejo e com a Cidade a 35mt de altura.
Paulo Moreira e Diogo Matos apostaram num “trabalho provocador de tom irónico que propõe a edificação de uma sala de chuto num vazio urbano em frente à Assembleia da República”, comentou o júri. Segundo os autores da ideia,
a intervenção teria em vista reflectir “o desejo de aceitação social pretendida pelos futuros utilizadores”, sendo que o edifício deveria ser constituído por cinco pisos com entrada, recepção, auditório, sala de espera, salas de chuto, serviço de reabilitação e reinserção social, cafetaria e serviços administrativos. A estrutura seria espelhada e o Palácio de S. Bento seria reflectido, transmitindo “a vontade de integração na sociedade de indivíduos marginalizados”.O núcleo da Trienal centra-se no Pavilhão de Portugal, passando também pela Cordoaria Nacional, pelo Museu de Electricidade e pelo Teatro Camões.

Mónica Almeida

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Vazios Urbanos no Vale de Alcântara
Considerando um Vazio Urbano como um fenómeno de ruptura urbana, de degradação, indefinição ou até mesmo de perda de identidade, o Vale de Alcântara assume-se como tantos outros existentes na cidade, como um espaço que ao longo dos tempos ganhou uma decadência física e patrimonial.
A identificação de espaços expectantes tais como, as antigas fábricas e armazéns, o viaduto pedonal existente, a marginal do Porto de Lisboa e inclusive a linha ferroviária que atravessa todo o espaço desfigura a imagem de Alcântara e define-a como um “não lugar“. Todos estes pontos poderão ser alvo de reflexão e de discussão como partes de uma vivência urbana que deve ser tida em linha de conta, como um ponto “chave“ de toda a articulação com a cidade e com a própria essência da zona.
A disfuncionalidade e a falta de conectividade entre espaços torna cada vez mais Alcântara num espaço de transição e de desertificação, perdendo totalmente a sua identidade física e todo o seu verdadeiro potencial.

Marco Mirôto, aluno do 3ºano do curso de Arquitectura de Gestão Urbanística da Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa


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