29.3.07

Casal Ventoso

MISÉRIA E EXCLUSÃO SOCIAL…
Mantêm-se!

O Casal Ventoso foi demolido, há alguns anos, mas a degradação na rua D. Maria Pia continua a ser evidente

Quem passa, na rua D. Maria Pia, não fica com a melhor impressão desta zona, que cobre uma das setes colinas da cidade de Lisboa. A maioria das casas estão degradadas e o ambiente que envolve a rua não é dos mais amistosos. Com a demolição do bairro do Casal Ventoso foram muitos os que julgaram ter-se terminado com a miséria, degradação humana que se vivia, diariamente, neste local.

Volvidos alguns anos, o ambiente ainda não é o mais agradável, mas a problemática foi minimizada e o policiamento diário transmite uma certa segurança. A população e as instituições deste Bairro, que envolve as Freguesias de Alcântara, Prazeres e Santo Condestável, foram realojadas nos novos Bairros da Avenida de Ceuta, no entanto é necessário potenciar novas dinâmicas e perspectivas de intervenção local e social, de modo a que se proporcione uma reintegração do tecido humano e, consequentemente, dos problemas urbanísticos existentes.

António Silva, morador na zona há 50 anos, queixa-se dos problemas de toxicodependência que existem e que a demolição do Casal Ventoso apenas veio encobrir, pois a droga continua a ser consumida e traficada, agora, em plena luz do dia. Segundo o mesmo, o único problema é mesmo a droga, pois “aqui ninguém faz mal a ninguém, nem sequer roubos se vêem!”

No âmbito do programa URBAN, que envolve a zona do Vale de Alcântara, limitada a Norte pelo viaduto Duarte Pacheco, a Oeste pela Av. da Ponte, a Sul pela Praça General D. Oliveira e a Este pela Rua D. Maria Pia, a Câmara de Lisboa tem procurado promover a coesão deste espaço público procurando responder às necessidades e prioridades dos moradores e de toda a população flutuante que ia ao Bairro à procura de droga. Desde 1996 tem-se procurado transformar este local numa zona habitável agradável, com espaços verdes, arruamentos, ruas abertas ao trânsito, o que tem sido conseguido aos poucos.

Acabar com a promiscuidade, com a falta de higiene e insegurança existentes no local ainda exige muito empenho e dedicação mas os primeiros passos já foram dados e os resultados são visíveis. Segundo a socióloga Joana Marques, “a massificação do consumo de drogas foi potenciada pela globalização que, com o tempo se foi tornando socialmente incontrolável, criando uma ténue fronteira que separa a coesão da marginalização social. Acabar com este problema não será fácil pois já está muito enraizado na sociedade e acabar com hábitos e preconceitos é mais difícil que criá-los”.

No ex-Casal Ventoso muitos esforços têm sido investidos e crê-se que com a instalação do gabinete de apoio do Serviço de Prevenção e Tratamento à Toxicodependência (SPTT) no local, em 1996, tem-se contribuído em simultâneo para a diminuição da decadência humana e para a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), como é o caso da SIDA.

Ainda existe muito trabalho por fazer e muita degradação humana para combater, até se poder observar nesta zona da capital o belo sorriso inocente de uma criança sem antes sobressair o olhar moribundo e degradante de um ser humano que não tem nenhum objectivo de vida, além da dose diária de estupefacientes que tem necessidade de consumir.

Marlene Henriques

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