Ambiente
Pelo Bairro há janelas fechadas que ocultam fantasmas. Casas desertas que num ciclo sem fim revivem as vidas de quem lá viveu. É assim que se poderia resumir o que acontece um pouco por toda a cidade. As casas desertas e os prédios devolutos são mais do que muitos, somando cerca de 60 mil. Em 1981, a população de Lisboa ascendia a 807.937 habitantes; em 1991 eram menos 18% - 663.394 habitantes, enquanto que em 2001 existiam 564.657 habitantes, menos 30% do que em 1981. A pergunta que podemos fazer é: “Em 20 anos, de 1981 a 2001, para onde foram 243.280 pessoas?”. Bem, não podem ter morrido tantas pessoas! E, efectivamente, não é esta a explicação. Assim, descontando os que morreram e os que saíram de Lisboa para viver e trabalhar noutro local, a maioria mudou-se para cidades e urbanizações que se vão desenvolvendo na periferia da capital. Isto acontece porque é impossível, para a maioria dos que nasceram e cresceram em Lisboa, comprar ou alugar uma casa dentro da cidade. A culpa reparte-se, provavelmente em partes iguais, entre ordenados baixos e especulação imobiliária. Imagina-se a comprar um T1 em Campo de Ourique por 130 mil euros e ficar a pagá-lo durante os próximos 40 anos? Ou será que prefere gastar 115mil € por um T3, com garagem, numa qualquer cidade-dormitório na periferia da cidade? Os que nasceram em Campo de Ourique dirão que prefeririam continuar a viver no melhor bairro de Lisboa, mas… Pois, cá está o “Mas…”, aquele que fala sempre mais alto - €.
Esta conjuntura faz com que os bairros fiquem menos habitados, à medida que a população envelhece e que os jovens procuram a sua 1ª casa. A debandada da cidade também coincide com o aumento da degradação dos imóveis, levou ao encerramento de excelentes escolas, como era o caso da Escola Secundária de Machado de Castro e a uma migração de milhares de pessoas que todos os dias vêm trabalhar para Lisboa, muitas nos mais de 400 mil automóveis que entram na cidade.
Se todas as 60 mil habitações que estão devolutas estivessem habitadas pelas 243.280 pessoas que Lisboa perdeu em 20 anos, isto corresponderia a 4 pessoas por casa. Se considerarmos que por cada casa abandonada em Lisboa se construiu 1 na periferia, se de cada 2 destas casas viesse 1 automóvel para a cidade, se este percorresse 40 km por dia de trabalho (cerca de 230 dias por ano) e se fosse um automóvel novo com emissões de dióxido de carbono (CO2) médias (142 g/km) então, ao final dum ano de trabalho, teriam sido lançados desnecessariamente para a atmosfera quase 40.000 toneladas de CO2. O CO2 é um gás, o tal que provoca o efeito de estufa, fenómeno que induz o aquecimento global, degelo das calotes polares e aumento do nível médio das águas do mar. Claro que ainda falta contabilizar o impacte resultante da conversão de terrenos naturais em terrenos urbanos e da obtenção de matéria-prima para efectuar estes novos edifícios, o dinheiro gasto em novos acessos rodoviários e no alargamento da rede de transportes e, por fim, o precioso tempo que cada cidadão perde todos os dias para chegar ao seu local de trabalho.
Em suma, a má gestão das cidades e deixar que as leis do mercado imobiliário tenham o papel principal nessa gestão não favorecem os cidadãos e o seu bem-estar, o renovar dos bairros e muito menos o ambiente. Vale a pena reflectir sobre este assunto, porque nunca nos podemos esquecer que a Terra não é só nossa, é também de todas as gerações vindouras.
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